Agora que surgem os primeiros sinais conjunturais que se podem considerar positivos na zona euro após vários anos de recessão, é imprescindível analisar aprofundadamente o que se está a passar e projetar o nosso futuro próximo; nosso enquanto união e nosso enquanto estado membro dessa união.
O texto desta semana que colunista do Financial Times, Wolfgang Munchau alerta-nos para um cenário que está longe de ser improvável e que o leva a intitular essa mesma crónica com um sério aviso: considerar que está na hora de sermos otimistas quanto ao fim da crise da zona euro é um erro.
Munchau enumera vários aspetos da realidade económica europeia e dos ensinamentos dos livros de economia que estão e estarão a anular os esforços de ajustamento dos países da periferia e até a aprofundar os desequilíbrios face ao centro de uma forma que impede qualquer reação ou plano de ajustamento exequível se colocado exclusivamente nos ombros dos países sob stress económico e financeiro.
Um sinal perturbador de que fala Munchau é que o próprio FMI não atribui a melhoria de alguns indicadores recentes em alguns dos países periféricos às mudança estruturais em curso, justificando-as antes com aspetos cíclicos e, em larga medida, alheios ao que esses mesmos países têm feito internamente. As implicações deste facto, caso o FMI esteja a fazer a leitura correta, são óbvias quanto à sustentabilidade futura destas economias e quanto ao resultado final da política atual de austeridade e resposta unilateral.
Por exemplo, o incremento dos excedentes comerciais da zona euro e a consequente valorização da taxa de câmbio (valorização do euro face às moedas do resto do mundo) destrói em larga medida os ganhos de competitividade face a esse mesmo resto do mundo que os países que batalham por entrar e ganhar quotas no mercado externo internacional (como Portugal, Espanha, Grécia, etc) têm vindo a fazer. E se for suficientemente duradouro, colocará em causa o próprio excedente comercial global da zona euro, mergulhando toda a região em nova crise.
Adicionalmente, a dimensão do ajustamento que é pedido aos países com forte nível de endividamento externo não está perto de ser considerado sustentável. Muito pelo contrário: a fadiga da austeridade nos países em crise aliada ao desinteresse dos restantes países em alterarem os seus padrões de comportamento económico ou atitude perante os seus parceiros, são avaliados como obstáculos inultrapassáveis para que a manutenção do rumo atual se apresente como bastante para que desde já se apregoe qualquer tipo de otimismo.
Munchau conclui mesmo que não consegue discernir qualquer plano que garanta a dupla missão de prosseguir o ajustamento económico dentro da zona euro e a sustentabilidade da dívida quando operando sobre a tensão do colete de forças da atual política oficial. Como ser otimista sem que alguém consiga apresentar essa solução milagrosa ou sem que se altere algo que hoje parece politicamente impossível de descortinar?
Acrescentamos nós: perante a constatação destas evidências, até que ponto é que os políticos, empresários e famílias de um país como Portugal têm mesmo opção ou poder para atingir um futuro melhor? Assumir e debater a probabilidade real deste cenário, encarar o caminho sem destino coletivo para que parecemos caminhar, pode vir a ser o melhor serviço prestado à nação e à defesa do próprio ideal europeu que os responsáveis dos países em crise podem prestar. Se Munchau e o FMI estiverem corretos, haverá um momento, talvez não muito longínquo em que será tarde demais para a ideia de Europa que tantos defendem e desejam.