Recebemos recentemente uma sugestão de leitura de um artigo de agosto do corrente ano de Martin Wolf publicado no seu espaço habitual no Financial Time: “A much-maligned engine of innovation“. Trata-se de uma crónica onde discorre sobre um livro recente (The Entrepreneurial State: Debunking Public vs Private Sector Myths, de Mariana Mazzucato, Anthem Press) que defende uma tese controversa mas que acaba por convencer o colunista: a de que o Estado tem desempenhado historicamente um papel de grande empreendedor, estando na base de muitas das grandes empresas e sucessos atribuídos comummente à iniciativa privada.
Os exemplos da Google, Apple e das inovações tecnológicas ao nível da indústria farmacêutica tantas vezes iniciados nos sistemas públicos, são apresentados como casos de estudo onde a semente empreendedora do Estado esteve e está presente.
Estará o Estado a cumprir atualmente com esse papel de empreendedor de alto risco, dinamizador da investigação e desenvolvimento em áreas inicialmente desprezadas pela iniciativa privada mas que repetidas vezes ao longo da história se têm revelado cruciais para as grandes revoluções tecnológicas a que temos assistido? Os níveis de investimento ou de desinvestimento populares nos últimos anos em muitos países empenhados na austeridade como forma de reequilíbrio das contas públicas podem indiciar que não.
Aos exemplos acima referidos juntam-se outros mais clássicos como o nascimento da internet, do computador, do GPS, wifi que surgiram em ambiente militar e/ou com financiamento público na sua génese.
A discussão está ao rubro nos Estados Unidos onde prolifera a discussão entre os empresários agora designados por job creators na gíria política corrente das linhas mais conservadoras versus esta perspetiva que sublinha o papel nada desprezível do Estado empreendedor, motor de arranque de processos decisivos de inovação e de novos caminhos. E por cá, em que ponto estaremos?