Num estudo divulgado esta semana o FMI acrescenta detalhes à sua análise crítica do que se está a passar na Europa (e das consequências da política económica imposta pelos credores – de que faz parte) e cava a distância quanto ao que defende deve ser o rumo a seguir e aquilo que os restantes parceiros da troika reconhecem e persistem em defender. Jorge Nascimento Rodrigues assina um artigo sobre o tema no Expresso online: “FMI quer mais flexibilidade na austeridade“. Dois excertos:
«Num horizonte de crescimento medíocre e mesmo de riscos de deflação em alguns países membros do euro, os técnicos do FMI recomendam que “o ajustamento orçamental seja feito a um certo ritmo que evite uma excessiva dragagem do crescimento”. Um dos sinais é “o excessivo estrago na procura”.
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Esta ponderação do “ritmo do ajustamento” é tanto mais necessária quanto o relatório do FMI verificou que o ajustamento competitivo nos países periféricos é duvidoso. “Há evidência muito limitada de que tenha ocorrido uma realocação de recursos entre sectores (de atividade económica)”, o que, traduzido do economês, quer dizer que a destruição do tecido económico foi superior à transformação pretendida no sentido de um reforço do sector dos designados bens transacionáveis.»
Em função dos resultados e dos riscos previstos, o FMI defende agora mais tempo para o ajustamento e, provavelmente, mais dinheiro (para ser inteiramente consequente com tal flexibilização). Esta última ilação não deve contudo garantir que esteja disposto a coletar-se novamente, reforçando a verba emprestada aos países em dificuldades.
A clivagem de opinião quanto à política a seguir que se adensa entre os parceiros da troika, aumentar a probabilidade de, fechado o ciclo do atual memorando de entendimento, o FMI passar à condição de instituição silenciosa, zelando “apenas” pelo estrito pagamento do valores emprestados. A responsabilidade da gestão da crise ficará assim a cargo, do BCE/Comissão Europeia, instituições que estão longe de assumirem as posições agora abraçadas pelo FMI.