“Superanalistas“, Super Crunchers no original, é um livro de 2007 então considerado como o melhor livro de economia do ano pelo Wall Street Journal e pelo New York Times que conheceu a sua primeira edição portuguesa no início de 2010 com a chancela da Academia do Livro. Em pouco mais de 300 páginas (cerca de 15€), o autor, Ian Ayres (recomenda-se a visita ao seu sítio), que combina a bizarra conjunção de ter formação superior em Econometria e Direito, discorre sobre o admirável mundo novo da super análise, ou seja, da geração e análise de informação sobre todo o tipo possível e imaginário de eventos e aplicações a processos de decisão.
Sendo particularmente interessante para quem é alérgico a números e para quem pouco ou nada cuidou de inquirir sobre como se tomam decisões correntes no nosso quotidiano empresarial, de consumo e de vida quotidiana, é também uma obra que abre horizontes a quem tem algum conhecimento mais particular do instrumental matemático, seja de análise de probabilidades, seja de econometria.
A tradução parece ser competente, ainda que a obra por vezes caia em repetições excessivas sobre as conclusões chave do livro lembrando algumas séries televisivas americanas que, tendo intervalos para anúncios a cada 5 minutos, repetem, sempre que retomam a exibição, o último minuto antes do intervalo. Será esta uma técnica útil para quem dificuldades de concentração?
Bom, mas o essencial, é que a forma acaba por ser muito acessível e o conteúdo apaixonante, particularmente pelos exemplos surpreendentes do poder do simples teste aleatório na tomada de decisão sobre o antigo saber escolástico e intuitivo. São sucessivos os exemplos em que o poder do teste da moeda ao ar supera o conhecimento dos especialistas, seja o assunto a tentativa de encontrar o par ideal, escolher o formato ideal para a sua página pessoal na internet, ou identificar o diagnóstico mais adequado para uma doença com sintomatologia complexa ou, pelo contrário, demasiado indiferenciada.
Em algumas situações, a leitura sugiriu-nos a recordação do clássico de Huxley “O admirável mundo novo”. Pois é também disso que aqui se trata, esse mundo chegou e está em vias de ser tudo o que conhecemos. O livro aborda a maravilha que advém do perguntar, de forma quase inteiramente sem custos, antes de decidir (via superanálise e explorando as bases de dados disponíveis ou construíveis pelo uso da internet). A livro faz a apologia da superanálise demonstrando que as técnicas podem ser colocados ao serviço de não iniciados (apresenta até várias ferramentas gratuitas para leigos) mas não deixa também de abordar a angústia que pode advir do lugar que sobrará para o bom selvagem. Que lugar haverá para o “parece-me que”, para a intuição ou para a fé? E, claro, como controlar o recurso a processo automáticos de decisão, já correntes em muitas áreas, mas potencialmente inaceitáveis se deixados em roda livre em outras como a justiça, etc.
Em suma, livrinho recomendado!