O artigo de hoje de Helena Garrido no Negócios, “Heresias para moderar a crise” provocou a reacção do nosso amigo (e esperamos que futuro colaborador) João Aurélio. Eis o seu comentário:
“Cara Helena,
leio com atenção os seus artigos. Porém, hoje não posso deixar de lhe transmitir a minha opinião. Penso que o seu argumento de monetarização dos défices está totalmente incorrecto e é falacioso.
Acho tão errada essa corrente, quanto a corrente pseudo-keynesiana que se seguiu à falência do Lehman Brothers. Aliás os resultados estão à vista. Não se pode curar cancros com aspirinas. Os efeitos das políticas conjunturais não são duradouros e distorcem a economia. A única forma de ultrapassar a crise é corrigir os graves desiquilíbrios externos e orçamentais. Note por exemplo nas consequências da política monetária norte-americana a seguir ao rebentar da bolha das dot-com.
Resultados: de facto aliviou-se a crise, mas à custa da alavancagem da economia (baixas taxas de juro). Esses erros estão a ser pagos com a falência de vários bancos e agora com o elevado risco da dívida soberana.
Os erros da politica económica de 2008 estão a ser pagos agora com a falência de alguns estados. Os erros de inflacionar a economia vão ser pagos mais tarde com inflações elevadíssimas. Depois vá explicar a pensionistas e a titulares de rendimentos fixos a perda do seu poder de compra. E pensa que alguém vai querer continuar a comprar dívida pública depois de os estados inflacionarem as economias e destruirem o investimento dos aforrradores que financiaram os défices dos estados nestas alturas difíceis? Vão obviamente continuar a exigir prémios de risco elevados para os compensar da inflação ou alternativamente títulos de rendimento variável. E no meio de tudo isto, os défices gémeos geradores de todas estes problemas vão manter-se e não vai tardar a aparecer uma crise ainda maior, na senda do que tem de vindo a acontecer, com ajustamentos cada vez mais difíceis, não obstante as políticas conjunturais serem mais caras e sobrecarregarem cada vez mais as gerações futuras. Os alemães é que têm razão…
Para este efeito, vai um conselho. Releia Robert Lucas, Barro, Prescott e Gordon. Eles mostram porque é que os Bancos Centrais devem ser independentes. Medicamentos com tantos efeitos secundários nas mãos de curandeiros (populistas) nunca foi uma boa solução…
João Aurélio”