A resposta mais sincera é “Depende”.
Se estivermos num país onde predominam actividades produtivas como a construção ou a produção industrial ou mesmo algum tipo de serviços, é natural que um dia de descanso a mais acabe por traduzir-se numa redução do Produto Interno Bruto face ao período com que este é comparado.
Se estivermos num país muito aberto ao exterior, onde o turísmo é uma actividade muito relevante para a economia, poderá suceder o oposto.
O ano passado um colega Austríaco, num grupo de trabalho patrocinado pelo Eurostat e pelo BCE em que participei (lembram-se da fotografia que aqui deixei?) sublinhava precisamente o efeito “escapadinhas”: sempre que havia uma conjugação favorável de fins-de-semana prolongados no país ou mesmo apenas em alguns dos países vizinhos, num mesmo trimestre, era garantido que se identificaria um efeito positivo muito significativo sobre o PIB patrocinado pelo turismo e pelo incremento do consumo privado.
Com o comércio externo o efeito também dependerá da realidade específica do país. Num contexto de défice comercial em que as exportações estão a desacelerar e as importações a acelerar, menos um dia de actividade também pode acabar por ser menos penalizador para a evolução do PIB no período.
É por isso que, apesar do INE ainda não estimar de facto os efeitos de calendário sobre as séries que divulga (procede apenas à correcção de sazonalidade), se recomenda alguma cautela quando estamos tentados a ver o “nosso lado da questão” deitando fora, de caminho, o menino com a água do banho.
É também por isso que é fundamental que o INE não alinhe por nenhum lado e que seja cada vez mais um centro de competência. E que tal reforçarmos as garantias para que isso continue a acontecer?
Em resposta ao João Pinto e Castro, ao João Caetano e à Câmara Corporativa.
A minha impressão é que o reflexo positivo no PIB (ou pelo menos, a não perda significativa de riqueza) fariam sentido há dez anos atrás. Mas hoje em dia, com o poder de compra tão diminuído e com o custo da gasolina (para já não falar na diminuição de oferta de establecimentos de diversão, em particular na vida nocturna), a maior parte da população activa passa os seus dias livres em casa, a ver televisão, ou a passear no shopping mais próximo sem comprar nada além de um café ou um sandae no McDonalds. Para muitos, o dinheiro não dá para mais. Este é aliás um dos reflexos mais evidentes do falado enfraquecimento da classe média.
Penso que seria benéfico para economia a extinção de alguns feriados no Outono/Inverno/princípio de Primavera. É que o tempo livre é cada vez mais inactividade e menos lazer.
Post muito pedagógico, que elcucida uma questão frequentemente ignorada, ou manipulada só para um dos lados. Também a mim, me fazia sempre espécie a contabilização dos feriados para o Produto Interno Bruto, e pelo lado, da sua diminuição, olvidando o lado mais benéfico da questão.
Nºao admirar-me-ia que muitos que sobrevalorizam a diminuição do produto em tais dias, sejam, os mesmos, que defendem o aumento gritante das desigualdades sociais e da distribuição mais equitativada riqueza e da diminuição salarial a todo o custo, e que nos levam a corar de vergonha na Europa Comunitária a 27, e passados 20 de integração. Não é nem justo, nem admissível uma tal disparidade, nem continuar a perpetuá-la sob a capa do déficit, da famigerada baixa produtividade, da corrupção e da cunha.