Classe Média - Dados de 2016

PIB: os números falam mas não sob tortura

PrecisãoPIB: os números falam mas não sob tortura:

“ (…) Chega a ser infantil a alegação de que o Governo “falhou” a sua previsão de 1,4% de crescimento, quando o INE apurou 1,3%. Vale a pena recordar que a previsão inicial do Executivo, constante do Orçamento do Estado para 2006, era de 1,1%. E que, apresentada no Parlamento, provocou a chacota de todas as oposições, que a descartaram por ser alegadamente irrealista!

Acresce o facto de o INE acabar sempre por rever em alta os dados provisórios do PIB nos últimos anos, sem olhar à cor dos governos: em 2003, a recessão, em vez de fazer cair o produto 1,1%, em termos reais, reduziu-o apenas,em 0,7%, sabemo-lo agora. E em 2004 e 2005, refeitas as contas, apuraram-se acréscimos de 0,2 pontos percentuais. O que explica estas revisões? A necessidade de separar os trigos – as variações, em quantidade, das exportações e das importações – dos joios das suas inflações cruzadas. As correcções atingiram os 448 milhões a mais, em 2003 e os 247 milhões de euros a adicionar ao PIB de 2005. Basta um acerto futuro desta ordem de grandeza nas contas de 2006 para que, afinal, tenha sido atingida, ou mesmo superada em uma décima, a meta revista do crescimento. (…)”

António Perez Metelo in Diário de Notícias

António Perez Metelo tem razão em muito do que escreve, sublinho apenas que quem hipervaloriza a capacidade de intervenção do Estado (governo) na evolução do PIB nacional é a própria classe política, hipervalorizando ao ponto do ridículo o escrutínio das variações do PIB. Houve em tempos governantes que se ocupassem de saber se uma variação nula (em cadeia) do PIB era um zero positivo ou um zero negativo, por exemplo…

Perante a divulgação mais oportuna, mais rápida, com maior timeliness da primeira estimativa do PIB que se avizinha (divulgação 45 dias após o fim período de referência) faz todo o sentido reforçar a pedagogia pública do que são e de como se podem e devem analisar e utilizar estimativas económicas oficiais, como sejam o Produto Interno Bruto. Recordo por exemplo, que no Reino Unido, entre a primeira estimativa relativa a 2006, divulgada via Eurostat ao 43ª após o final do ano, e a segunda divulgada ao 65º dia, ocorreu uma revisão em baixa de duas décimas da taxa de variação homóloga. Terá o INE britânico falhado redondamente? Not quite. Claramente, preferem ter alguma noção do andamento da economia o quanto antes, admitindo alguma perda de precisão, face à alternativa de se divulgar um número mais exacto mas eventualmente demasiado tardio face à sua utilidade enquanto conselheiro para a governação económica das empresas e do país.

Já vai sendo tempo de a classe política nacional se fazer crescidinha passando a usar a informação estatística de acordo com as fragilidades e forças de cada número. Com isso iriam desenvolver um sentido crítico e uma procura de dados que só poderia ter consequências positivas na qualidade da informação estatística produzida e das políticas desenvolvidas.

Centrando-me, para terminar, na análise económica referida por Perez Metelo, confesso que tal como relativizo as revisões ao PIB nacional olhando para o que melhor se faz lá fora (onde não vejo provas de se produzirem números mais precisos) preferiria ter um país onde a economia conseguisse crescer acima dos nossos principais parceiros nos períodos positivos do ciclo e que decrescesse menos nos períodos de recessão. Seria excelente se o poder político, sendo incapaz de terminar o ciclo, conseguisse catalizar a economia nacional dando-lhe esse empurrão adicional. Infelizmente, o que temos visto nos últimos (muitos) anos (e que não mudou com a mais recentemente informação económica) é uma economia que apanha as canas da vizinhança, mas que continua longe de participar activamente na festa. Estamos melhor, mas com o nosso principal parceiro a crescer a 4,0% ao trimestre, em termos homólogos, crescermos 1,7% não consegue ser suficientemente estimulante para grandes celebrações.

O crescimento da economia nacional é suficientemente diminuto para ainda ser razoável admitir que quase todo o incremento a que assistimos advenha mais do contágio externo do que de uma reestruturação, modernização e aumento de competitividade da economia nacional. Como disse, esse seria inquestionável se, mantendo o perfil de sustentação actual do PIB (centrado no comércio externo) estivéssemos a aproximar-nos sucessiva e claramente da vizinhança. Estaremos? Deixo uma nota positiva, ainda que muito ténue e demasiado errática para permitir conclusões muito sólidas: com ambas as economias a acelerarem (taxas de variação homólogas a aumentarem ao longo do ano), o crescimento homólogo do PIB espanhol foi 3,6 vezes superior ao português no 1º trimestre de 2006, 4,2 vezes no 2º, 2,6 vezes no 3º e 2,4 vezes no 4º) – este perfil é muito semelhante ao que encontraríamos se repetíssemos esta conta com as estimativas relativas à União Europeia a 27 ou a 25, bem como relativas à Zona Euro.  Ou seja, se se mantiver a “tendência” do último ano, particularmente do último semestre, poderemos ter um cenário mais animador durante 2007. SE!
É melhor meter na cabeça que temos ainda muito que pedalar.

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