Banco Central do Japão inicia processo de subida dos juros. Para os menos atentos, uma taxa de juro de 0,5% pode parecer imensamente baixa, mas na história recente do Japão este valor é record de 10 anos.
Depois de um longo período de deflação e de taxas de juro negativas (que provavelmente não terá ainda terminado – desconte a taxa de inflação japonesa a estes 0,5% e verifique se obtém um valor positivo ou negativo), a recente recuperação económica japonesa parece estar a colocar alguma pressão sobre o aumento dos preços levando o Banco Central Japonês a iniciar aquilo que deverá ser um aumento gradual das taxas de juro. É essencialmente por isso que as notícias de hoje são simbólicas: o Japão está em vias de abandonar a terrível
armadilha da liquidez – que sumariamente se pode descrever no seguinte encadeamento: a expectativa de descida de preços implica retracção do consumo na expectativa de um melhor negócio no futuro, que implica reduções na produção (excesso de oferta), que a partir de certo ponto levam a falências, que levam à perda de emprego e à redução do rendimento disponível que tem como consequência menos consumo que tenta ser estimulado por novas descidas de preços etc, sem que o Banco Central (por via da já ter descido a taxa de juro tudo o que podia) possa intervir com eficácia para estimular a procura.
Nem só a subida descontrolada dos preços é má para a economia, como intuitivamente quase todo o leigo perceberá. A economia replica em larga medida a complexidade dos sistemas naturais: há sempre um equilíbrio instável e inseguro, multidimensional, quase milagroso, que pouco mais conseguimos do que vislumbrar levemente. Terá sido assim com a armadilha da liquidez no caso japonês.
Fontes para esta notícia: Diário Económico e Jornal de Negócios.
Adenda: no Diário do Notícias de 22 de Fevereiro contraria-se a ideia de que esta subida dos juros seja a primeira de um movimento regular. Pelo menos a ideia expressa pelo Banco Central do Japão foi a de que o aumento terá sido pontual garantindo assim que não se inicie um processo de valorização do Iene, que (ainda) não é desejável para os sectores exportadores de economia japonesa.