O antibanco de Muhammad Yunus: ainda sobre o vencedor do prémio nobel da paz deste ano já aqui destacado – Muhammad Yunus e o seu Banco Grameen – convido-vos hoje à leitura do artigo de António Peres Metelo no Diário de Notícias que polemiza com uma opinião de João César das Neves onde este decide partilhar pela banca comercial os créditos do prémio este ano atribuido ao banco do microcrédito.
Deixo-vos um excerto:
“(…) A ideia fundadora do microcrédito surge da observação de uma realidade insuportável: mulheres artesãs de peças de bambu, nas aldeias em Chittagong, não conseguiam gerar rendimento suficiente para alimentar-se a si e aos filhos, mesmo quando tinham assegurada a venda dos seus produtos. Não dispunham de um fundo de maneio próprio e todo o excedente económico esvaía-se nos juros predadores dos agiotas locais, que avançavam o dinheiro para a compra da matéria- -prima. Escassas dezenas de dólares chegaram para arrancar essas 40 mulheres do ciclo infernal dos parasitas argentários. Mas estes só existem porque a banca comercial não empresta dinheiro a quem não tem bens colaterais para oferecer como garantia! Nesse sentido, ao confiar na palavra, sobretudo, das mulheres mais pobres do seu país, Yunus criou o antibanco.
Quem depende dos próximos 100 dólares para novo ciclo produtivo do seu micronegócio sabe que não se pode dar ao luxo de falhar um pagamento. E, pasme-se!, a taxa de incumprimento dos paupérrimos não é superior à dos endinheirados. A diferença está em quem empresta: não promove as ilusões de que se pode ter uma vida extraordinária de multimilionário ao aceder a determinado cartão de crédito ou de que se é “dono” de um banco ou de uma grande empresa por comprar uma centena de acções em oferta pública. (…)”