Novo Aeroporto, dinheiro dos contribuintes e iliteracia financeira

Vamos lá ver se nos entendemos, o dinheiro dos contribuintes não se resume aos impostos que estes pagam. Eis algumas palavras sobre o dinheiro dos contribuintes e iliteracia financeira.

 

O que é e o que não é dinheiro dos contribuintes?

Se o Estado é dono de um edifício que tem arrendado e se para o conseguir reparar, modernizar ou até alargar esse mesmo edifício ou construir um novo ao lado, o Estado passar a entregar o valor das rendas a um empreiteiro, esse dinheiro também é dinheiro dos contribuintes.

É tanto dinheiro dos contribuintes como o é dinheiro que estes pagam de impostos!

Muito provavelmente já foi o dinheiro dos impostos passados que levou à construção desse edifício que, entretanto, está a contribuir com rendas para o erário público (e a contribuir para que se paguem menos impostos).

Na realidade, essas rendas estariam a ser utilizada para beneficiar os contribuintes, nem que fosse por estarem a juntar-se ao dinheiro dos impostos, no grande bolo do orçamento do estado, pagando saúde, educação, justiça, segurança, defesa, infraestruturas, diplomacia, investigação científica, etc.

É evidente que se esse retorno das rendas (ou concessões que são algo parecido e muito usadas na relação entre o Estado e os privados), for desviado para financiar, por exemplo, um edifício novo, ele vai deixar de estar disponível para ser usado noutros fins, fins esses que deverão continuar a necessitar de recursos que terão de vir de outro lado (dos impostos?) ou que terão de ser deixados cair pois deixaram de ter dinheiro.

 

Usr o dinheiro das rendas futuras nã dá garantia nenhuma de ser o melhor negócio para o Estado

Por outro lado, numa questão relacionada mas diferente, nada nos garante que entregar as rendas futuras (associado a um novo edifício que até pode ser um aeroporto) a um empreiteiro que será também, durante um largo, muito largo, ou larguíssimo período, o senhorio (no sentido em que recolherá as rendas) será a melhor opção. E notem que aqui o tempo é muito relevante. Quanto mais largo for o período em que se entrega o edifício e as suas rendas ao senhorio/empreiteiro maior será o volume de dinheiro dos contribuintes que estará a ser entregue!
Se ir buscar dinheiro aos impostos ou aumentar a dívida pública (pagando os respetivos juros) tiver um custo global inferior às rendas que se entregarão (do novo edifício/aeroporto) a um empreiteiro/senhorio – que até já está a receber as rendas do velho edifício e tem uma posição de relacionamento privilegiado com o Estado por via de um contrato que se encontra sob escrutínio -, então a opção que é vendida com o lema  “nem um euro dos contribuintes será usado para construir o novo edifício/aeroporto” pode revelar-se a pior opção no melhor interesse dos contribuintes. O “pode” aqui é muito relevante. Tudo dependerá dos detalhes e do custo efetivo de cada opção.

Afinal, como dissemos no início, estamos sempre a falar de dinheiro dos contribuintes e o que interesse no final é saber qual é a modalidade que, no conjunto de anos associados à construção e pagamento da obra é mais económica para o país (um outro nome para designar, entre muitas outras coisas, o conjunto dos contribuintes).

Por isso, quando nos próximos dias, semanas, meses ou anos, ouvir a conversa de que se fará um aeroporto, uma estrada, uma ponte, sem recorrer a dinheiro dos contribuintes, desconfie de quem lhe está a atirar areia para os olhos.

 

Há uma vacina para a iliteracia financeira?

É verdade que já tivemos oportunidade, no passado, para perceber este truque, que já se revelou muito caro (especialmente envolvendo aeroportos) mas, aparentemente, ele continua a funcionar ou, pelo menos, há quem acredite que funciona, como cortina de fumo para desviar as atenções de uma avaliação rigorosa, que considere todas as opções,  para identificar que é o melhor negócio para o Estado.

Quem o fizer, de novo, está a explorar uma enorme lacuna que afeta muitos dos nossos concidadãos: padecerem de uma enorme iliteracia financeira.

Se conhecer alguém que sofra deste male, há boas notícias para si e para ele, é um mal inteiramente curável e você que chegou ao fim desta prosa e entendeu o que aqui se disse é a cura.

Fale com o seu amigo ou familiar e ajude a colocar a discussão política num patamar mais elevado, contribuindo para que os próprios políticos respeitem mais o cidadão e se deem mais ao respeito. E, já agora, esteja atento a ver se há quem esteja a fazer política sem recorrer a estes truques.

Se calhar, os políticos não são todos iguais.

Um comentário

  1. Sim. Os políticos não são todos iguais.
    E, quando votamos para sermos representados por eles, esperamos que eles tenham toda a literacia necessária para nos defenderem dos “abutres”. Mas, como todos sabemos nesta sociedade onde impera o capitalismo, hoje mais selvagem que nunca, os “homens das negociatas” concentram-se todos em redor do poder. E, quem os denuncia e quer travar são logo apelidados de “radicais marxistas”, esse “papão” que tanto impede que o verdadeiro socialismo se instale e construa uma sociedade justa e solidária, pois a lei da selva é mais conveniente…para alguns!

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