Para saber qual é a taxa de juro que os bancos recebem por depositar o seu dinheiro junto do BCE é necessário conhecer uma das Taxas de juro diretoras do Banco Central Europeu (BCE), em particular, a taxa de Facilidade permanente de depósito (divulgada pelo Banco de Portugal/BCE aqui, por exemplo).
A margem comercial entre depósitos de cliente e depósitos no BCE
Esta “Facilidade permanente de depósito” mais não é do que a possibilidade que o BCE dá aos bancos do Eurosistema de colocarem junto do próprio BCE o excesso de liquidez, as suas reservas, que têm no seu balanço ao final de cada dia.
Se um banco captou €1 milhao de depósitos à ordem ou a prazo, só emprestou metade e já cumpriu com toda as suas obrigações prudenciais, pode colocar o que sobra num depósito renovado diariamente junto do BCE à taxa de juro de… 3,75% segundo dados recolhidos a 12 de agosto de 2024.
Este é o 2ª valor mais elevado desde a criação do Euro e do Eurosistema (tinha-se registado brevemente no passado entre o final de 2000 e o início de 2001), tendo o recorde sido batido em outubro de 2023 (4,0%).
Se, por ventura, um banco pagou 2,19% aos novos depósitos de prazo superior a 1 ano (dados oficiais do BCE relativos à banca portuguesa em junho de 2024 – valores médios) e colocasse todos esses depósitos junto do BCE, iria receber 3,75% em troca. Isto sem emprestar dinheiro ou aplicar os depósitos recolhidos junto dos seus clientes em qualquer atividade de promoção da atividade económica. Uma diferença de 1,56 pontos percentuais.
A margem comercial entre depósitos de clientes e empréstimos a clientes
É certo ainda que uma parte desses depósitos a prazo (alguns, poucos, com taxas superiores à do BCE) é convertido em empréstimos às famílias e empresas sendo que, nesse caso, a diferença entre as taxas médias que o BCE apurou para os empréstimos em Portugal e as remunerações pagas aos depositantes foi de 3,36 pontos precentuais – junho de 2024. Em Portugal, neste momento, o rácio de transformação (de depósitos em crédito) é particularmente baixo, o que leva a crer que haja recurso significativo à facilidade de depósitos do BCE.
Esta é uma das margens mais elevadas da Zona Euro que compara com 2,15 pontos percentuais em Espanha e 2,16 pontos percentuais na Alemanha.
Parece impossível não ter lucros na banca, neste momento
Empreste ou deposite junto do BCE, os bancos vivem neste momento um período de grande bonomia em termos de enquadramento económico e condições objetivas do seu mercado e modelo de negócio, com condições invejadas por parte de qualquer outro negócio.
Parece impossível o negócio bancário correr mal, um cenário que habitualmente impede também de distinguir claramente o trigo do joio em termos de qualidade da gestão bancária. É preciso muito pouco esforço para se ter um desempenho estelar quando comparado com outra realidade de política monetária e fase do ciclo económico.
Para já, no horizonte projetável, os lucros recorde ou próximo de valores recorde prometem manter-se, a menos que a política monetária (do BCE ou de outro banco central de um parceiro chave) induza uma recessão séria ou que algum outro fator externo muito severo se revele.
Outra leituras
Talvez tenha interesse em ler, no Expresso, o artigo “Banca portuguesa tem dinheiro, mas não empresta“.
Esta bonomia está desenquadrada com equidade, transparência, seriedade e valores democráticos,e o BCE são os principais responsáveis por práticas que são imorais e têm carácter e comportamento de agiotas.