Euribor a 3 meses em mínimos de 16 meses antecipa futuras descidas

A última vez que a Euribor a 3 meses esteve abaixo dos 3,352% registados a 25 de setembro de 2024 foi em maio de 2023. De então para cá a Euribor a 3 meses atingiu um máximo de 4,002%, registado pela última vez em meados de novembro de 2023 e começou a descer. De facto, iniciou o seu caminho descendente no final de 2023, primeiro de forma tímida e agora mais ousada, estimulada pela descida das taxas de juro diretoras definidas pelo Banco Central Europeu, iniciada a 12 de junho de 2024. No gráfico em baixo é possível constatar o vale e as montanhas porque passou a Euribor a 3 meses entre 2008 e 2024.

Desde novembro de 2023 até 26 de setembro de 2024, uma dessas taxas –  a taxa à qual o BCE remunera depósitos a prazo que os bancos comerciais coloquem junto do BCE (taxa de depósito) desceu 50 pontos base, passando de 4,0% para 3,5%. As outras duas taxas diretoras desceram mais com, por exemplo, a taxa de cedência de liquidez –  uma taxa que reflete o custo dos bancos pedirem dinheiro emprestado ao BCE, a descer de 4,75% para 3,9% no mesmo período, ou seja, 85 pontos base.

Euribor a 3 meses entre 2008 e 2024

Nesse mesmo período a Euribor a 3 meses desceu um pouco mais do que a queda da taxa de depósito e ligeiramente menos do que a queda da taxa de cedência de liquidez. A Euribor a 3 meses desceu 65 pontos base.

Euribor a 3 meses em mínimos de 16 meses antecipa futuras descidas
Fonte: https://www.euribor-rates.eu/pt/taxas-euribor-actuais/2/euribor-taxa-3-meses/

 

O que esperar a curto e médio prazo para a Euribor?

Provavelmente, o mercado interbancário que define a Euribor (taxa de juro que os bancos cobram aos seus pares para emprestarem dinheiro entre si) está a antecipar que não deverá demorar muito até que o BCE volte a descer as taxas de juro com que procura condicionar o preço do dinheiro. E estará também a incorporar a descida mais ambiciosa que já ocorreu na taxa a que o próprio BCE cobra juros aos bancos. A expectativa mais razoável é a de antecipar novos valores mínimos para as várias Euribor nos próximos dias.

Desde a última descida do BCE, a sua contraparte Norte Americana (a FED) desceu as suas taxas diretoras de forma mais expressiva (50 pontos base) terminando com as especulações sobre se os EUA entrariam numa reversão de política monetária ou não.

A descida foi expressiva e sinaliza que a saúde da economia norte americana não propicia riscos de no curto e médio prazo de voltar a alimentar um processo inflacionista.

Recorde-se que ao contrário do BCE, a FED, além de ter a missão de controlar os preços, tem ainda o dever de manter a economia num patamar de emprego estável, pelo que tenderá a reagir de forma mais clara caso o nível de emprego esteja em risco. Ainda assim, até pela integração económica das duas potencias (com impacto nas taxas de câmbio, comércio externo, fluxos de capitais, etc) é natural que, não havendo nenhum fundamental da economia Europeia em contraciclo, o BCE se sinta mais confortável para tomar a evolução da inflação dentro da Zona Euro pelo seu valor facial perante uma descida das taxas de juro nos EUA. E esse valor facial indica que a inflação na Zona Euro já está muito próxima da meta de 2% à data de hoje

Assim, a menos que até à próxima reunião de outubro, do BCE, surja algum dado inesperado que aponte para um ressurgimento ou aceleração da inflação, é provável que o BCE volte a descer a taxa de juro ou pelo menos sinalize que conta vir a fazê-lo em breve. E isso deverá estimular a Euribor, nos seus vários prazos, a continuar a rota da descida rumo a um valor de longo prazo que deverá alinhar-se com a própria meta da inflação, ou ficando ligeiramente acima desta. Ou seja, em torno dos 2%.

O ritmo a que se fará esse caminho é ainda impossível de prever e terá sempre um caminhão de incerteza em função da volatilidade da própria situação geopolítica e económica mas, à data de hoje, o cenário mais provável é o de uma contínua descida das taxas de juro rumo a algo um pouco acima dos 2% ao longo dos próximos anos.

Quem tiver créditos a pagar irá sentir uma descida significativa dos encargos a pagar nos próximos meses, em especial se esses créditos forem remunerados tendo por base alguma das Euribor.

Isso será bom para a economia portuguesa? Dependerá sempre do que fizermos com o dinheiro, mas tenderíamos a responder afirmativamente, até porque, Portugal sim, parece estar há vários anos em contraciclo com a maioria dos seus parceiros, em processo de convergência com os países mais ricos e sem especiais sinais de crise económica interna no horizonte.

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