No final de julho de 2020, identificámos que os “Portugueses têm 74% do PIB em depósitos” e fizemos referência ao tema da armadilha da poupança também conhecido pela armadilha da liquidez. Tipicamente, uma das reações mais comuns a períodos de grande incerteza onde se antecipam crises futuras iminentes é o de parar abruptamente o consumo e reforçar a poupança, no sentido de criar uma almofada de liquidez, de dinheiro, para poder fazer face a alguma surpresa ao nível do rendimento.
Ora num primeiro momento, se esse fenómeno for generalizado e for seguido mesmo por quem está numa situação económico-financeira robusta e com maior capacidade de resistir à crise que se adivinha, o impacto na economia será o de agravar significativamente a própria crise ou mesmo levar a que esta se concretize de facto. Reduz-se o consumo, adiam-se investimentos, para ou abranda a atividade económica, criando-se maior pressão e desgaste sobre vários setores, sobre a viabilidade de empresas, sobre o emprego, provocando reais quebras do rendimento a quem estiver nos setores mais afetados.
Num segundo momento, esse reforço da poupança poderá ter algum impacto positivo junto de algumas das famílias que, de facto, terão que usar a almofada criada e poderá conferir maior autonomia e menor dependência para os agentes económicos face a fontes de financiamento externas e necessariamente onerosas ou até de difícil acesso.
Taxa de poupança que aumentou para 10,6%
Dito isto, que, no fundamental, resulta da teoria económica, a realidade prática, empírica, em Portugal parece estar a confirmar que estamos a percorrer estas etapas teórica. De facto, a 23 de setembro de 2020, o INE divulgou informação macroeconómica (Contas Nacionais Trimestrais por Setor Institucional) relativa ao segundo semestre de 2020 onde revela a capacidade de financiamento da economia.
Entre os dados revelados destaca-se a taxa de poupança que aumentou para 10,6% (tinha sido de 7,5% no trimestre anterior), bem como o destaque de que este resultado reflete sobretudo a diminuição de 3,7% do consumo final.
O INE destaca ainda:
“Considerando valores efetivos e não valores referentes ao ano acabado no trimestre, é de assinalar o aumento expressivo da taxa de poupança em cerca de 12 p.p. no 2º trimestre de 2020 face ao observado em idêntico período de 2019. Salienta-se ainda a redução do peso do excedente bruto de exploração no VAB das Sociedades Não Financeiras em 7,6 pontos percentuais, a maior diminuição em termos homólogos da série disponível.”
Mais detalhes no INE.