O Banco de Portugal no seu Boletim Económico do Banco de Portugal (junho de 2020) revela uma atualização das suas projeções macroeconómicas para 2020, 2021 e 2022. São as primeiras que refletem o impacto da pandemia em curso nas previsões.
Boletim Económico de junho de 2020: Comparando Governo com Banco de Portugal
PIB
Comparando com o exercício mais recente do Ministério das Finanças que enquadrou o orçamento suplementar (ver “Atualização das Projeções Macroeconómicas para 2020 e 2021“) constata-se que as projeções do Banco de Portugal são mais pessimista para 2020 e mais otimista para 2021 do que o governo.
De facto, em relação a 2020, onde o governo espera uma contração de 6,9%, o Banco de Portugal antecipa uma queda de 9,5%. Para 2021, o governo espera uma taxa de crescimento do PIB de 4,3% enquanto o Banco de Portugal projeta 5,2%.
Inflação
Ao nível da inflação, apesar de trabalharem com indicadores ligeiramente diferentes, destaca-se que a previsão do Banco de Portugal aponta para uma maior resiliência da inflação não antecipando deflação mas “apenas” uma inflação de 0,1% em 2020 (governo prevê -0,2%).
Para 2021 a diferença será mais significativa com o Banco de Portugal a antecipar uma inflação de 0,8% e o Ministério das Finanças 0,4%.
Taxa de desemprego
Também na taxa de desemprego o Banco de Portugal é ligeiramente mais pessimista antecipando uma taxa 5 décimas superior para 2020 (10,1%). Para 2021 a previsão é mais próxima apontando o BdP para uma retração do desemprego para uma taxa de 8,9% (8,7% na previsão do governo).
Primeiras projeções para 2022
Nas primeiras projeções para 2022 o cenário global é de crescimento robusto ainda que menos intenso do que o antecipado para 2021. No conjunto de 2021 e de 2022 não é expectável que se recupere integralmente para valores pré-covid. Veja-se, por exemplo, a taxa de desemprego que se manterá nos 7,6%, ainda bem acima dos 6,5% com que se fechou o ano de 2019.
Naturalmente, o grau de erro destas projeções dependerá ainda em larga medida da evolução da pandemia e das medidas de política económica bem como da predisposição de investimento do estado e dos privados, nor próximos meses.
Alguns destaques do Banco de Portugal
” (…) Num quadro de relativo controlo da epidemia e de progressivo levantamento das medidas de contenção adotadas para lhe fazer face, perspetiva-se que a atividade económica comece a recuperar a partir do terceiro trimestre de 2020. Projeta-se que o PIB cresça 5,2% em 2021 e 3,8% em 2022. No final do horizonte de projeção, a atividade deverá situar-se num nível próximo do observado em 2019, mas consideravelmente abaixo do esperado antes da pandemia.
Para o consumo privado, projeta-se uma redução de 8,9% em 2020, mais acentuada do que a quebra do rendimento disponível real, e à qual deverão seguir-se crescimentos de 7,7% em 2021 e de 3,0% em 2022. A taxa de poupança deverá aumentar substancialmente em 2020, refletindo a dificuldade de consumir alguns bens e serviços durante o estado de emergência e a elevada incerteza prevalecente.
Estima-se que o consumo público aumente 0,6% em termos reais em 2020, em resultado do efeito conjugado de uma maior despesa em saúde pública no contexto da crise pandémica e da diminuição da atividade das administrações públicas, relacionada com uma redução do número de horas trabalhadas. Após a reversão destes efeitos pontuais e na ausência de medidas de política adicionais, prevê-se que o consumo público mantenha, ao longo do horizonte de projeção, uma evolução similar à projetada para o ano em curso.
O investimento deverá recuperar mais rapidamente do que em ciclos anteriores, após uma queda significativa em 2020, embora seja esperado que, em 2022, permaneça aquém dos níveis registados em 2019. A formação bruta de capital fixo (FBCF) deverá reduzir-se 11,1% em 2020, refletindo a queda acentuada da componente empresarial, e crescer 5,0% em 2021 e 4,5% em 2022. A expectativa é que o impacto negativo sobre a FBCF residencial seja relativamente limitado e que a FCBF pública apresente um crescimento superior ao do PIB ao longo de todo o horizonte de projeção.
Perspetiva-se uma queda das exportações de bens e serviços de 25,3% em 2020, seguida por crescimentos de 11,5% em 2021 e de 11,2% em 2022, que serão insuficientes para recuperar o nível registado em 2019. A queda nas exportações reflete, sobretudo, uma descida muito acentuada das exportações de serviços associados ao turismo, com efeitos persistentes até ao final do horizonte de projeção. As importações de bens e serviços deverão apresentar uma trajetória relativamente similar à das exportações. A capacidade de financiamento da economia, medida pelo saldo conjunto da balança corrente e de capital, deverá reduzir-se para 0,3% do PIB em 2020 e assim permanecer nos dois anos seguintes. Em 2020, a balança de bens e serviços deverá ser deficitária, o que acontece pela primeira vez desde 2011, refletindo uma redução do excedente da balança de serviços, associada sobretudo à queda das exportações de turismo.
No mercado de trabalho, as projeções apontam para uma queda expressiva do emprego em 2020, de 4,5%, e para um aumento significativo da taxa de desemprego, para 10,1%, evoluções que dependem criticamente das políticas adotadas que visam preservar o emprego e a liquidez das empresas. Em 2021 e em 2022, deverão registar-se melhorias quer no emprego quer na taxa de desemprego, mas não suficientes para retomar os valores observados em 2019.
Já no que respeita aos preços, projeta-se, para 2020, uma virtual estabilização, resultante de uma diminuição dos preços dos bens energéticos e de um crescimento contido nos restantes bens e serviços. Nos dois anos seguintes, a inflação, medida pelo índice harmonizado de preços no consumidor, deverá permanecer baixa, aumentando para 0,8% em 2021 e para 1,1% em 2022. (…) “
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