Com a difusão dos dados provisórios de março de 2016 relativos ao emprego e desemprego, o INE divulga também os dados definitivos de fevereiro nos quais, como habitualmente concentramos a nossa análise.
Tratando-se de dados já corrigidos da sazonalidade privilegiamos a comparação entre meses sucessivos. A análise dos dados definitivos de janeiro e de fevereiro de 2016 revela que a população empregada aumentou em 8 900 indivíduos tendo a população desempregada também aumentado em 5 100 indivíduos. Ou seja, em termos globais a situação melhorou.
Os dados definitivos mesmo definitivos ou ainda definitivos provisórios?
Os dados definitivos relativos em emprego de janeiro de 2016 divulgados pelo INE pela primeira vez há um mês, surgem agora revistos em alta em cerca de 7 300 indivíduos. Ou seja, janeiro de 2016 foi afinal melhor do que o indicado pelo INE aquando da difusão da sua primeira estimativa definitiva. Com esta revisão em alta que acaba por ficar fora dos holofotes da análise de conjuntura, a melhoria aparente entre janeiro e fevereiro surge identificada como sendo de apenas 1 600 indivíduos muito à conta desta revisão em alta dos dados definitivos de janeiro que afinal não eram definitivos. Um fenómeno parecido mas de menor magnitude afetou os dados “definitivos” do desemprego de janeiro que agora surge com menos 600 desempregados. Combinando as duas correções dos dados definitivos o efeito acumula e a comparação entre os primeiros dados definitivos de fevereiro e os primeiros dados definitivos de janeiro revelaria um andamento muito mais positivo do que o retratado na destaque de hoje do INE entre os primeiros dados definitivos de fevereiro e a revisão dos dados definitivos de janeiro agora feita.
Posto isto, nem a nossa análise estritamente centrada em dados definitivos do INE garante que a análise dos movimentos de curto prazo é estável e informativa.
Posto isto que dizer?
Que a taxa de desemprego continua estável a oscilar entre os 12,1% e que a taxa de emprego está estável a oscilar em torno dos 57,3%, mas para isto não precisávamos de ter dados mensais dependentes ou de previsões (dados provisórios) ou de revisões sobre dados definitivos promovidas pelas revisão mensal dos fatores de sazonalidade (dados definitivos) que acrescentam mais ruído e oferecem muito pouco face ao que era dado pelas mais informativas estatísticas trimestrais.
Sugestão?
Que o INE divulgue juntamente com o seu destaque mensal as séries cronológicas completas não corrigidas de sazonalidade e, quem sabe, que centre sobre elas a sua análise, divulgando os dados corrigidos para quem os exige. Aparentemente, ao rever mensalmente os factores de correção de sazonalidade, o INE introduz alterações sistemáticas aos dados definitivos o que, numa lógica de análise de alta frequência com dados mensais para tentar antecipar mudanças de sinal, acaba por revelar-se ruidoso e potencialmente inutilizador desse objetivo. Olhar para as variações homólogas dos dados não corrigidos e – expectavelmente- não revistos (pelo menos de forma sistemática por via da dessazonalização) deverá ser, apesar de tudo, um exercício onde será mais fácil discernir qual o sentido de evolução recente para o emprego e desemprego e menos suscetivel à espuma dos modelos de dessazonalização. Em termos de utilização pública dos dados só vemos vantagens poupando aos nossos políticos exibições ridículas de ignorância estatística e económica que, convenhamos, neste caso, acaba por ser potenciada pelo próprio INE.
Mas os dados não corrigidos de sazonalidade também são publicados pelo INE! As tabelas do Destaque têm essa parte do lado direito e no Portal também se encontram essas séries completas.
Exemplo: https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0007975&xlang=pt&contexto=bd&selTab=tab2