Onde começa e acaba a Classe Média – Dados de 2016? Segundo dados da Autoridade Tributária, há um pouco mais de 5 milhões de agregados familiares em Portugal.
Talvez seja chocante para muitos dos nossos leitores que provavelmente não são a representação perfeita da população portuguesa em termos de rendimentos coletável, mas a verdade é que, precisamente usando o rendimento coletável, cerca de 9 em cada 10 agregados familiares portugueses ganha menos de €20.000 por ano. Ou seja, por exclusão de parte, apenas cerca de 10% são tributados por valores acima dos €20.000.
Note-se que a distribuição que a seguir deixamos não será igual em todas as regiões do país. Nas grandes cidades e, em especial, em Lisboa, os níveis médios de ensino são superiores, os salários médios são superiores, e muitos dos mais abastados residem na região pelo que é muito provável que a correlação de pesos relativos seja diferente, contendo maior proporção de agregados com mais de €20.000 de rendimento coletável por ano. Mas o que é um facto é que quando consideramos toda a população nacional, chegamos à conclusão que o rendimento coletável acima de €3.000/mês é algo a que apenas cerca de uma em cada 10 famílias está a atingir.
Onde começa e onde acaba a classe média? Devemos usar medidas de comparação relativa? Devemos usar uma fasquia monetária independentemente da distribuição de rendimentos no país? Seja qual fora a opção de cada um, o que é certo é que há mais de dois terços dos agregados familiares que têm um rendimento coletável anual inferior a €7.000 ou seja €583 por mês considerando 12 meses ou €500 considerando 14.
Quem recebem €40.000 é rico? E €50.000?
Em termos relativos, está muito melhor do que 9 em cada 10; em termos absolutos se calhar tem dificuldades em chegar ao fim do mês com as despesas que terá na região onde reside e com os encargos familiares que terá às costas.
Mas num mesmo país com esta distribuição de rendimento, e mesmo admitindo que haverá medidas mais justas de comparação, muito dificilmente deixará de ser identificado como estando claramente acima da média. Por mais distante que essa família esteja do mais ricos dos mais ricos, face ao grande contingente de conterrâneos, a sua posição é evidente.
Classe média ou nem por isso?
Convém que qualquer discussão sobre o tema se centre em factos. Eis aqui alguns.
Rendimento coletável | Número aproximado de agregados | % face ao total |
Até 7000 | 3.500.000 |
67,9% |
7 a 20.000 | 1.200.000 |
23,3% |
20.000 a 40.000 | 360.000 |
7,0% |
40.000 a 80.000 | 80.000 |
1,6% |
Acima de 80.000 | 12.000 |
0,2% |
Total | 5.152.000 | 100% |
Um último dado. Usando o rendimento monetário por adulto equivalente (que corrige para a composição do agregado familiar) o INE estima que metade da população receba até €703/mês e a outra metade acima disso.
O conceito de rendimento é distinto do rendimento coletável, daí as diferenças, mas apesar delas, parece evidente e indesmentível o facto de que há uma enorme percentagem da população portuguesa encostada aos níveis mais baixos de rendimento, níveis muito inferiores aos valores médios que se encontrarão a zona mais rica do país.
ADENDA – Dados de 2022: Taxa efetiva de IRS ronda os 13,8% apesar da taxa máxima ser de 48%
Mais informação nas estatísticas do IRS.
Segundo tenho ouvido dizer, há muitos individuos que não declaram o que na realidade ganham,para fugirem aos descontos…..Acontece que são precisamente esses que acabam por ser os beneficiados na maioria em certas regalias. Nada mais tenho a dizer, apenas que sempre cumpri o meu dever e, já estou reformada há uns anitos. Só que devido a ter uma doença grave, tinha isenção em exames médicos passados pela Seg.Social e, foi-me retirado esse beneficio.
Como em todas as estatísticas, há muita falácia nisso. (Não esquecer a mais evidente: se eu comer duas galinhas e tu nenhuma, à luz da estatística cada um de nós comeu uma galinha…).
Se um agregado familiar residente em Lisboa auferir 500€ mês, não está, como é evidente, nas mesmas condições de outro que ganha os mesmos 500€ em qualquer pequena localidade do interior:
Ganham o mesmo, sim, mas os gastos obrigatórios são muito menores. E, além disso, em grandíssima parte dos casos, nessa localidade de interior, o hipermercado de produtos alimentares — que são precisamente no que mais incidem as despesas de qualquer agregado familiar — situa-se na horta da própria residência.
Isto para já não falar na circunstância de que na tal localidade certamente que os membros do agregado familiar não são obrigados a gastarem muito do seu pecúlio em vestuário e calçado, nem vêem os cobres que lhes restam sumirem-se em passes para se deslocarem de casa para o trabalho e vice-versa.
Portanto… deixemos-nos de filosofias baratas e de demagogias ainda mais baratas e encaremos a realidade tal qual ela é e nãp como ela convém a uns quantos senhores.