Considerando a série quinquenal iniciada em 1989/1990 e acompanhando o peso relativo das despesas com alimentação em cada um dos seis Inquérito às Despesas das Famílias realizados pelo INE até ao mais recente de 2015/2016 constata-se que as despesas com alimentação ganham peso pela primeira vez em 25 anos no conjunto das despesas familiares.
Esta evolução coincide com uma contração real da despesa realizada pelas famílias entre 2009/2010 e 2015/2016, ou seja, sucede ao mesmo tempo em que as famílias tiveram menos dinheiro para gastar. Esta coincidência não surpreende dado que, tratando-se da alimentação de uma necessidade básica, é natural que a sua procura seja mais rígida num cenário de contração da despesa, ganhando peso relativo face a outras despesas que se contraem mais facilmente.
Inquérito às Despesas das Famílias 2015 2016
O quadro seguinte, extraído da publicação do INE onde se apresentam os dados provisórios do Inquérito às Despesas das Famílias 2015 2016 apresenta a evolução das principais classes de despesa das famílias portuguesas desde 1989/1990 de acordo com os sucessivos inquéritos quinquenais realizados. Recorde-se que este inquérito, o IDEF, é particularmente relevante para vários indicadores chave produzidos pelo INE com destaque principal para o índice de preços no consumidor – que apura a taxa de inflação – dado que a estrutura de despesa aqui revelada será utilizada para atualizar os ponderadores do referido índice de preços. No fundo, o IDEF permite ao INE saber qual o cabaz de despesa médio dos agregados familiares portuguesas, cabaz esse que irá sendo atualizado anualmente com base a informação parcelar e revisto completamente a cada cinco anos com uma nova vaga do Inquérito às Despesas das Famílias.
Em termos globais o INE destaque que, nos últimos cinco anos, a evolução da despesa anual média dos agregados familiares aumentou 2,6% em termos nominais (o número de euros gastos subiu de €20 391 para €20 916), mas quando considerados preços constantes, ou seja, os dados em volume, revelam que os portugueses, na realidade, adquiriram menos bens e serviços, uma quebra de 4,2%.
O INE sublinha ainda que há um tipo de agregado familiar que se distingue muito significativamente pelo facto que apresentar despesas médias superior em 44% à média global: os agregados familiares com filhos a cargo.
Classes de despesa a aumentar de peso no total
O período de comparação para identificar a flutuação do peso relativa de cada classe de despesa é crítico para determinar os resultados da análise, de facto, se a comparação for entre 1989/1990 e 2015/2016 verificamos que conjunto das três classes de despesa mais relevantes aumentou (o que parece consistente com o que sucedeu nos últimos cinco anos), contudo, a distribuição da despesa por estas três classes mais relevantes alterou-se substancialmente. Na prática, as despesas com Habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis que pesava 12,4% em 1989/1990 trocou de lugar com os Produtos alimentares e bebidas não alcoólicas que pesavam 29,5%.
Hoje, as despesas com Habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis são, de longe, a classe de despesas mais relevante para as famílias (31,8%) seguindo-se-lhe as despesas com Transportes (14,7%, praticamente constantes em termos de peso face a 1989/1990) e as despesas com Habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis (14,4%).
As despesas com comunicação e com Bens e Serviços Diversos aumentaram de peso de forma marginal, nos últimos anos.
Classes de despesa a diminuir de peso no total
Em queda no cabaz de compras das famílias nos últimos cinco anos estão as despesas com Vestuário e calçado, com Acessórios para o lar, equipamento doméstico e manutenção corrente da habitação, com Saúde e, em especial, pela magnitude, as despesas com Restaurantes e Hotéis e com Lazer, recreação e cultura. A classe de despesa Bebidas alcoólicas, tabaco e narcóticos, apesar de ter perdido apenas quatro décimas no seu contributo para o cabaz acabou por ter a maior variação quinquenal dado que já tinha um peso reduzido.
O peso das despesa com educação manteve-se constante e representa 2,2% da despesa média (aumentou ligeiramente em euros gastos, mas não o suficiente para que, após o arredondamento do peso relativo, este aumentasse).
Note-se que o IDEF 2015/2015 teve trabalho campo para recolha de informação entre março de 2015 e março de 2016.
Eis alguns destaque adicionais do INE que pode acompanhar com mais detalhe na sua publicação:
- A Área Metropolitana de Lisboa continua a registar a despesa anual média mais elevada do país;
- Em média, as famílias com crianças dependentes gastam mais 658 euros por mês do que as famílias sem crianças dependentes