As exportações e importações dispararam e o défice comercial aumentou em agosto de 2016 segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística relativos às Estatísticas do Comércio Internacional. Os efeitos de calendário e a aquisição atípica do aviões do Brasil encontram-se entre as justificações, incompletas para a evolução registada.
Depois de em julho de 2016 se ter apurado uma queda de 4,6% e de 7,3% nas exportações e importações, respetivamente, que conduziu a balança comercial de bens a recordes na sua taxa de cobertura desde 2014 e a uma melhoria da situação face a 2015, agosto de 2016 revela uma alteração súbita e substancial em todos estes indicadores.
Segundo INE as exportações aumentaram em agosto ao ritmo mais elevado de 2016, 6,1%, tendo sucedido o mesmo com as importações (+10,6%). Na realidade desde fevereiro de 2016 que não se registava um aumento, quer das exportações, quer das importações. Em virtude de o crescimento das importações ser ainda mais expressivo do que o das exportações, o défice da balança comercial em agosto de 2016 foi superior ao apurado em agosto de 2015.
No conjunto do trimestre terminado em agosto de 2016, as exportações terão aumentado 0,8% e as importações 0,1%. Recorde-se que no trimestre terminado em julho a realidade era de uma queda das exportações de -2,3% e de -3,9% nas importações, face a igual período de 2015.
A que se deve este aumento em agosto de 2016?
O INE assinala que, em parte, o facto julho de 2016 ter tido menos dois dias úteis do que julho de 2015 e agosto ter tido mais um dia útil do que agosto de 2015 terão contribuído para a forte oscilação entre os dois meses. Ainda assim, sendo o efeito de calendário mais intenso em julho do que em agosto (dois dias contra um) e atendendo as que as variações em causa são de facto homólogas, a forte variação em agosto convida mais a procurar razões adicionais que expliquem a forte subida do que no caso de julho.
O que aconteceu em termos de mercados/países:
Nas exportações:
O INE destaca o forte aumento das exportações para dentro da União Europeia (+12,2% em agosto contra + 0,9% em julho) como o grande móbil para a realidade atual. Sendo que a evolução nas vendas para fora da União Europeia, tendo-se mantido com evolução homóloga negativa (-7,2%) registaram uma franca melhoria face aos dados de julho (-18,6%).
Nas importações:
Tal como nas exportações, foi o maior dinamismo no mercado intra-comunitário (+9,5% em agosto contra -3,8% em julho) que justificou o forte crescimento das importações.
E se excluirmos os combustíveis?
Sem os combustíveis, as variações das exportações e das importações em agosto de 2016 surgem ainda mais exacerbadas: as exportações aumentaram 8,3% e as importações cresceram 14,2% (compara com, respetivamente, -3,0% e -3,2% em julho de 2016).
O INE destaca mesmo que “desde meados de 2015, as exportações e importações excluindo os Combustíveis e lubrificantes têm registado taxas de variação superiores às da totalidade das exportações e importações. Este diferencial de evolução reflete em larga medida o impacto da redução dos preços dos Combustíveis e lubrificantes.“
Quais são os produtos em destaque em agosto de 2016 face a agosto de 2015?
Nas exportações, o INE destaca o forte crescimento nas vendas para o exterior de Bens de consumo (+15,6%) e nos Produtos alimentares e bebidas (+18,4%) tendo as vendas de Combustíveis e lubrificantes caído16,0%.
Nas importações, registou-se um acréscimo de compras de 47,5% no Material de transporte e acessórios, sobretudo no Outro material de transporte, nomeadamente de aviões do Brasil. Apesar deste afluxo anormal de aviões que destroce fortemente as importações, o INE destaca que “todas as categorias registaram aumentos, exceto as importações de Combustíveis e lubrificantes (-8,6%)”.
Conclusão:
Face à importação atípica de aviões do Brasil e descontando esse efeito numa perspetiva de médio prazo, agosto de 2016 trouxe um aumento robusto das exportações e das importações, provavelmente, empolado por via de um efeito de calendário que, ainda assim, não conseguirá explicar por si a inversão de queda para subida registada entre julho e agosto de 2016 face a igual período de 2015.
A situação de desequilíbrio adicional das balança comercial deverá justificar-se mais pela aquisição anormal atípica de aviões do que por um maior dinamismo global das compras face às vendas.
Os próximos meses de dados do comércio internacional permitiram constatar de estamos ou não perante uma melhoria significativa e sustentada dos indicadores do comércio externo português.
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