O INE divulgou hoje os dados relativos aos Inquéritos de Conjuntura às Empresas e aos Consumidores relativos a junho de 2016 revelando sinais mistos nos indicadores de confiança.
Em termos de indicador de clima económico o INE revela uma situação de estabilização com a indústria transformadora e comércio em alta e serviços e construção em baixa.
Quanto aos consumidores, registou-se uma queda da confiança sucedendo a um mês em que havia melhorado e assim mantendo o carrossel de subidas e descidas ligeiras que se vem registando há vários meses.
Sinais mistos nos indicadores de confiança
De lado negativo:
Destaca-se a evolução no índice de confiança dos consumidores que há cerca desde o início de 2015 teima em não apresentar uma tendência evidente acumulando subidas e descidas em torno de um ponto médio muito próximo do agora registado pelo indicador. Note-se contudo que esta indefinição de uma tendência há mais de um ano se faz após um período de forte recuperação, estando os atuais níveis de confiança claramente acima dos valores registado durante o período mais negro da crise económico-financeira. Chamamos a atenção para os dois gráficos que diferem apenas no período temporal representado.
V.E são valores efetivos; V.E. MM3M são os mesmos valores efetivos mas usando a média móvel dos últimos três valores conhecidos.
Do lado positivo:
Destaca-se a evolução da confiança entre os empresários da indústria transformadora que aumentou, após ter diminuído entre março e maio. Esta recuperação deveu-se ao contributo positivo das opiniões sobre a evolução da procura global e sobre os stocks de produtos acabados.
Também com sinal positivo surge o indicador do comércio que regista o valor mais elevado desde julho de 2001. A evolução registada na indústria transformadora e no comércio foi suficiente para contrabalançar a evolução negativa nos restantes setores, tendo-se concluído pela estabilização do indicador de clima económica em junho de 2016.
Crítica ao INE
Ainda sobre a informação relativa aos consumidores, um comentário a uma frase difícil de compreender da autoria do INE, a frase:
“O indicador de confiança dos Consumidores diminuiu em junho, após ter aumentado no mês anterior, interrompendo a tendência ascendente observada desde o início de 2013.”
A crítica prende-se com a falta de dados que comprovem de forma alguma que junho de 2016 pode ser sinalizado como um momento claro de inversão de uma tendência de recuperação iniciada em 2013. Como se pode verificar pelos gráficos com dados do próprio INE, há pelo menos 18 meses, desde o início de 2015, que não há qualquer tendência clara.
Veja-se que nos últimos 18 meses, o indicador subiu e desceu sempre com magnitudes parecidas ao ponto de o valor agora registado ser exatamente igual ao de janeiro de 2016 (e melhor do que o de novembro ou de dezembro de 2015) e apenas muito ligeiramente inferior à média dos últimos 18 meses (-12,4 versus -12,6).
Olhando para o período desde 2013 até junho de 2016 podemos afirmar que, nos últimos 18 meses o indicador estabilizou em torno de uma média muito próxima do valor agora apurado em junho de 2016, como que formando um planalto, consequente sem tendência ascendente ou descendente.
Uma última indicação para o facto de o INE também apresentar uma conclusão parecida mas de sentido oposto na análise que faz à industria transformadora, exacerbando a melhoria agora registada e qualificando-a como “interrompendo o perfil negativo observado desde agosto de 2015” o que também carece de sustentação nos dados.
Uma má hora para a análise qualitativa dos dados de conjuntura mensal por parte do INE e completamente atípica face ao que tem sido a tradição e experiência de análise de séries cronológicas por parte do INE e no âmbito da qual o INE desempenha um papel imprescindível.
ADENDA: Eis o que o INE escreveu nos últimos seis meses sobre o índice de confiança dos consumidores (dados acima representados nos dois gráficos):
- Janeiro 2016 – O indicador de confiança dos Consumidores aumentou em janeiro, após ter diminuído nos dois meses anteriores, retomando a tendência ascendente observada desde o início de 2013.
- Fevereiro 2016 – O indicador de confiança dos Consumidores aumentou em janeiro e fevereiro, após ter diminuído nos dois meses anteriores, prolongando a tendência ascendente observada desde o início de 2013.
- Março 2016 – O indicador de confiança dos Consumidores estabilizou em março, após ter aumentado nos dois meses anteriores.
- Abril 2016 – O indicador de confiança dos Consumidores diminuiu em abril, após ter estabilizado no mês anterior, interrompendo a tendência ascendente observada desde o início de 2013.
- Maio 2016 – O indicador de confiança dos Consumidores aumentou em maio, após ter diminuído no mês anterior, retomando a tendência ascendente observada desde o início de 2013.
- Junho 2016 – O indicador de confiança dos Consumidores diminuiu em junho, após ter aumentado no mês anterior, interrompendo a tendência ascendente observada desde o início de 2013.
Não há nenhuma tendência que possa ser retomada, interrompida, retomada e interrompida durante um semestre. Isto respeitando minimamente o que é uma tendência e as limitações inultrapassáveis quanto ao que se pode interpretar da informação disponível nessas mesmas seis ou sete observações.
Mais informação:
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