Apesar de Portugal e Alemanha estarem numa mesma zona monetária e partilharem a mesma moeda, as características específicas da zona euro amplificam o prémio de risco cobrado a empresas a operar em economias com realidades muito distintas. Se é verdade que a intervenção do BCE tem vindo a reduzir progressivamente o nível do juro nominal no mercado, não consegue ter grande sucesso no prémio acrescido que algumas empresas têm de pagar pelo simples facto de estarem sediadas num país sobre maiores dificuldades financeiras ou com um grau de desenvolvimento inferior.
Segundo os dados mais recentes, relativos a janeiro de 2015, um novo empréstimo até um ano custava, em média, às empresas portuguesas 4,65% TANB, mais 0,56 pontos percentuais (p.p.) do que em dezembro de 2014. Já para uma empresa alemã o custo era de 1,58% em janeiro de 2015, tendo descido dos 1,78% pedidos em dezembro. Uma realidade que não difere substancialmente se alargarmos a análise a outras maturidades de empréstimo e que em rigor é pior do que a aqui refletida dado que estamos a ignorar o diferencial de inflação entre os vários países. Se considerarmos que os preços em Portugal estão em queda acentuada, o sobrecusto para pagar o empréstimo suportado por uma empresa em Portugal é ainda superior ao aqui medido.
A diferença é brutal. Note-se que mesmo comparando com a nossa vizinha Espanha, o nosso principal parceiro económico, as diferenças são significativas. Em janeiro, o mesmo tipo de crédito custava às empresas espanholas, em média, 2,59% TANB contra os já referidos 4,65% em Portugal.
O que uma empresa portuguesa teria de lucrar a mais só para cumprir o excesso de serviço da dívida face a uma alemã inviabilizará muitos negócios e coloca a empresa portuguesa, à partida, numa situação de perda de competitividade. E note-se que é ilusório, em muitos negócios, pensar que se pode compensar tal diferencial com o esmagamento dos custos de produção face à Alemanha, por exemplo via menores salários, dado que algumas das industrias/serviços em que ainda é mais fácil queimar etapas de atraso de forma significativa e entrar no jogo da competição global são precisamente indústrias globais, com trabalhadores motivados para a mobilidade internacional e requisitados internacionalmente, onde o salário atribuído é numa fração importante determinado globalmente e só em parte pelos condicionalismos locais.
Acresce ainda que em outros negócios onde podemos substituir importações ou ser exportador de bens ou mesmo de alguns serviços, o salário tem um peso na estrutura de custos insuficiente para que o diferencial de salário compense estes outros fatores de perda de competitividade que, dentro da zona euro, e com as regras atuais, parecem inelutáveis.
Haverá fontes de financiamento mais baratas para as empresas poderem concorrer num campo menos inclinado do que o recurso ao crédito bancário? E se houver como conseguirão os bancos dar a volta a uma situação de rentabilidades negativas crónicas que, a prazo, os condenarão a uma inevitável falência?