No texto “Os fretes e as falácias da OCDE” de Alexandre Abreu aborda-se, entre outros, a forma errada de medir a competitividade.
Um excerto:
“(…) E de uma forma mais geral, Gurría esquece-se ainda de dizer que o que determina a competitividade não são os salários – é a relação entre os preços dos produtos e as suas características (gama, qualidade, inovação…). Isolar um dos elementos da estrutura de custos como constituindo o determinante único da competitividade é objectivamente errado. Como é errada a ideia segundo a qual os preços são determinados exclusiva ou principalmente pelos salários e que a redução dos preços (que aliás é uma forma tosca de promover a competitividade) só se consegue cortando os salários. Esquece-se com isso toda a restante parte dos rendimentos da economia – os lucros, juros e rendas – que não são salários mas que provêm igualmente dos preços pagos no mercado. Não é uma parte pequena: é mais de metade.
Acontece é que quase ninguém tem falado dessa parte, porque as atenções, como num passe de mágica, foram integralmente concentradas nos rendimentos do trabalho e na pretensamente incontornável necessidade de os cortar.
O resultado desta notável manipulação é que desde 2009, a parte dos rendimentos do capital no PIB aumentou já de 49% para 52%, graças às medidas sistemáticas de desvalorização do trabalho tomadas desde a eclosão da crise e entusiasticamente apoiadas pela OCDE. O bolo é mais pequeno, mas há uma das fatias que está maior… e para isso têm contribuído todos aqueles que, sob uma capa de objectividade tecnocrática, mais não fazem do que reproduzir um discurso destinado a servir interesses particulares, interesses de classe.
Há que desconfiar dos economistas, sobretudo quando nos trazem presentes. São uma espécie perigosa.”