(Opinião) Eis um excerto do mais recente texto de Wolfgang Munchau aqui numa tradução do Diário Económico “versão integral aqui =>”Atenas e a saída da zona euro“)
“(…) Avaliar as pré-condições económicas para uma saída é relativamente fácil. O difícil seria um país sair unilateralmente de uma união monetária se o seu défice orçamental primário – antes do pagamento de juros – apresentar um saldo extremamente negativo. Nas suas previsões da Primavera, a Comissão Europeia estimou um défice estrutural primário nulo para este ano e um excedente primário de 1,8% do PIB para 2014. Do ponto de vista económico, a saída da Grécia da zona euro é cada vez mais verosímil. A ironia está no facto das reformas e da austeridade constituírem simultaneamente um pré-requisito para permanecer na zona euro e um pré-requisito para sair da mesma.
Restam duas opções à Grécia. A primeira é levar por diante as reformas e entrar em incumprimento mantendo-se na zona euro – uma estratégia que pressupõe a existência de cúmplices noutras capitais europeias e no Banco Central Europeu. A segunda é entrar em incumprimento fora da zona euro – uma decisão que a Grécia pode tomar unilateralmente, desde que as condições macroeconómicas sejam adequadas. Até ao momento, a segunda opção não tem sido viável, no entanto, a opção sugerida por Schäuble de reformar sem entrar em incumprimento só faz sentido do seu ponto de vista. Para a Grécia não é uma opção.
O facto de a saída da zona euro ser economicamente exequível e até vantajosa não significa nada, visto um país poder escolher ficar na zona euro por questões políticas ou de segurança. Mas quando a saída passa a ser economicamente viável a história muda de figura. Não é o caso da Grécia nem de outros países em crise – por enquanto. Mas perante uma escolha real, o resultado vai ser mais difícil de prever.”
Sublinhados nossos. Um dilema para terminar: no dia em que estivermos em condições de sair do Euro (desejáveis) provavelmente também estaremos em condições de ficar. O debate em torno da saída do euro que modestamente aqui estamos a promover, pode também ser útil para a tomada de decisão nesse momento, isto para a eventualidade de se perceber, nessa altura, que os factores de ameaça da moeda única (hoje identificados) se mantiverem.
Em suma, ficar ou sair do euro não é uma questão que se deve resumir à conjuntura de aflição em que vivemos. O debate tem de prosseguir, assim como a tensão mobilizadora que ele gera.