Se os preços começarem a descer em vez de subir não é bom?

Imagine que tinha a certeza absoluta que amanhã tudo estaria um pouco mais barato do que hoje. E imagine que muito provavelmente depois de amanhã tudo estaria ainda um pouco mais barato. Imagine até que seria muito provável que daqui a um ano aquela compra que está a projetar fazer lhe sairia muito mais barata. A deflação é isto; o simétrico da inflação. Se uma subida acentuada e regular dos preços cria um incentivo para não comprar amanhã aquilo que pode comprar hoje, com a deflação sucede o inverso. E, naturalmente, aos poucos, a deflação ir-se-á transmitindo a todos os preços não esquecendo que os salários também são um preço, o preço do trabalho.

Um período de inflação moderada e muito limitado no tempo não é necessariamente uma catástrofe, assim como não é convivermos com taxas de inflação moderadas, claramente abaixo dos dois dígitos, contudo, “ligar” e “desligar” a inflação/deflação não são tarefas inteiramente controláveis. E pela descrição que fizemos é fácil de constatar que o poder da expectativa de descida de preços sobre as decisões de compra pode criar uma bola de neve onde, para se vender, haverá incentivo para descer o preço de modo a cativar o cliente reticente, podendo com isso estar a contribuir para aumentar ainda mais a expectativa de descida de preço e eternizando o ciclo com consequências potencialmente devastadoras para a atividade económica.

Um dos exemplos mais conhecido de deflação duradoura com graves consequências ao nível do tolhimento da atividade económica será o Japão que desde os anos 90 tem vindo a enfrentar sem sucesso este problema (ainda que, por estes dias, esteja a tentar algo novo face às opções até aqui utilizadas).

17 comentários

  1. Mais uma falácia em economia. Pergunto-lhe se conhece o sector tecnológico. Computadores, televisores, telemóveis, entre outros estão constantemente a descer de preço, portanto há deflação nestes ramos. E eu pergunto: as pessoas adiam o consumo? Totalmente o contrário. São estes sectores que mais atraem consumidores e onde o consumo mais aumenta. Esta é mais uma estupidez no ramo de economia. E o Japão sofre, não devido à deflação, mas devido à enorme despesa governamental. Este absorve as poupanças da população, impedindo que as empresas usem o crédito para investimentos produtivos, e faz com que tenha de prejudicar a economia, taxando-a mais. Enfim, pense por você próprio antes de enfiar tudo o que lhe dizem nas aulas de economia, principalmente nunca universidade pública (keynesianos).

    1. As pessoas não adiam compras para comprar nos saldos?
      O seu exemplo não é ele próprio uma falácia? Qual é o prazo médio de vida de um produto tecnológico no retalho? Durante quanto anos seguidos consegue comprar o mesmo modelo de TV? Se atender ao efeito qualidade, sim, o preço está sempre a descer, o preço desce logo que surge outro produto mais sofisticado (e ao mesmo preço ou mais caro) do que aquele que substitui. O novo produto que passa a ser alvo das campanhas publicitárias e que procura acrescentar margem num dos sectores mais competitivos do mundo. Sim um telemóvel simples é hoje muito mais barato mas a industria criou o smartphone, o novo objeto de desejo e relativamente tão caro quanto o top ode gama de há 5 anos. Tem a certeza que todos os sectores da economia tem características comparáveis a este que, de facto, tecnicamente, está em deflação há décadas? É só mudar o cabaz de produtos tecnológicos para aqueles que as pessoas efetivamente compram (algo que o INE não faz com muito regularidade) para descobrir que a deflação nesse sector é muito inferior que resulta do acompanhamento de produtos que mantêm exatamente as mesmas características tecnicas..
      Agora, pense numa casa. Se lhe disser que daqui a três anos todas as casas, em cima da desvalorização que estão a ter, vão deixar ainda de pagar IMT, tem a certeza que tudo isto junto não o faz adiar a compra?
      Quanto ao papel do estado na crise Japonesa que absorve a poupança das pessoas recomendo este artigo de um “perigosos” liberal à moda do Reino Unido: http://economico.sapo.pt/noticias/as-licoes-que-o-japao-nos-pode-ensinar_78914.html

  2. O que eu digo é que as pessoas querem consumir no imediato. Agora quer comparar com os saldos, onde passados 2 ou 3 meses os preços estão 50%, 60% mais baixos (além de que os saldos não são bom exemplo, já que os produtos são feitos para uma estação, e quando acaba ou está a acabar, aparecem os saldos)? .. Observe os Estados Unidos na sua época mais próspera e repare que houve deflação de preços. Eu, como consumidor, quero é que os preços desçam, mas repare que eu não quero nenhuma interferência, eu quero é que o mercado por si, com uma oferta de dinheiro estável e com um crescimento de produtividade, produza decréscimo nos preços. E outro ponto, e se as pessoas, efectivamente, não comprarem? Não quererá isso dizer que há maior poupança, criando maior potencial para crescimento? (talvez também acredite que o consumo é que faz a economia crescer, e que devemos estimular o consumo).

  3. Parece-me que quer o Randalf quer o Mapari, estão certos e errados ao mesmo tempo.
    De facto a deflação provoca ainda mais deflação, mas o que é verdadeiro para os sectores tradicionais não o é para os sectores de elevada rotação tecnológica.
    As pessoas podem-se abster de consumir por duas razões, que podem ocorrer em simultâneo ou não, a primeira porque esperam uma descida de preços logo quanto mais esperarem, maior utilidade poderão conferir ao seu dinheiro, a segunda porque sendo as expectativas económicas negativas, as pessoas podem-se abster de consumir, poupando mais.
    Quer uma quer outra opção, afectam o consumo, fazendo com que a economia entre numa espiral depressiva, uma vez que nas economias ocidentais 70 a 80% do PIB é consumo.
    As opções keynesianas continuam parcialmente válidas, excepto no que toca ao facto de hoje todas as economias funcionarem em regime aberto, ao contrário do que se passava há 80 anos atrás, por outro lado as opções austeritárias, possuem a virtude de poder introduzir alguma racionalidade nos gastos públicos se forem devidamente acompanhadas por um aumento exponencial da participação cívica e politica dos cidadãos, mas para isso terão que ser criadas AS FERRAMENTAS NECESSÁRIAS para o efeito, que ainda não existem.
    Em todo o caso as crises não trazem só problemas também trazem oportunidades e acima de tudo são necessárias, para impedir que as pessoas se afastem muito da razão cartesiana.

  4. Tal como a inflação reflecte um desequilíbrio entre as quantidades oferecidas e as quantidades procuradas, também a deflação reflecte esse mesmo desequilíbrio. Das intervenções já havidas só vi a perspectiva da procura. E a da oferta? O Excesso de oferta sobre a procura origina deflação. Também alinho na perspectiva de que a deflação não é, fundamentalmente, originada pela gestão de expectativas dos consumidores de descida futura dos preços, mas também, e sobretudo, pelo desequilíbrio das produções (oferta), que leva à necessidade de descida de preços para colocar stocks excessivos.

  5. Relembro que a deflação é a descida generalizada dos preços; de um cabaz de compras que “replica” a generalidade dos bens de um mercado. O setor tecnológico representa apenas parte do cabaz não havendo deflação pelo seu conceito se os preços deste setor descerem

  6. De facto estamos também perante uma crise de sobreprodução, o que acontece ciclicamente e o economista Russo Kondatrieff, tão bem explicou, e o pior de tudo é que está dentro do intervalo de 60-80 que ele especificou, e tudo.
    O capitalismo gera excedentes de pessoas, que para realimentarem o sistema produtivo via consumo têm que reentrar nele, através da subsidiação desse mesmo consumo, ou em alternativa pela criação ilimitada de novas necessidades, obsolescência programada e respectiva aumento de rotação dos produtos. Esgotadas estas duas últimas opções e criado um desiquilibrio na redistribuição dos benefícios do sistema pelos não usufruidores directos ( desempregados ) o sistema deixa de ser realimentado e entra em colapso.
    A História recente diz-nos que o sistema só volta a adquirir prosperidade depois de um tempo de rotura, normalmente uma guerra ou algum tipo de acontecimento de destrói os alicerces do sistema e permite a sua reconstrução assente em pilares mais fortes, pilares esses que por norma têm a duração da memória humana, entrando novamente em colapso ao fim de 60/80 anos, com uma meia-crise entre os 30/40 anos (1973/74).
    Simples.
    Como sair daqui ? Tempo & rotura.

  7. Alguém no seu estado normal iria dizer que estamos mal porque produzimos muito (sobreprodução)? Só mesmo um economista (keynesiano) para dizer uma barbaridade destas. Enfim…, depois defendem guerras e ataques alienígenas para destruir tudo e ‘estimular’ o consumo. Se o consumo estimula a economia, então deixem-me consumir à vontade, pois eu quero consumir e assim ajudo a economia. Que grande falácia. Economia é a ciência onde mais estupidez aparece. Como disse anteriormente, enfim.

  8. Se não houver consumidores, quer de bens de consumo, quer de bens de produção, ou, se se preferir, quer indivíduos, quer empresas, pergunto: produz-se para quê?, ou, produz-se para quem?

  9. Claro que vai haver consumo na economia e consumidores. A questão é que é o pior que se pode fazer para a economia crescer é consumir. Poupar é, sem qualquer dúvida, a única maneira de crescer. Alguém que consome tudo aquilo que recebe, não poderá aumentar o seu capital (bens de produção para serem fabricados, têm de ser suportados por bens de consumo produzidos anteriormente). O que digo é que não tem qualquer lógica ‘estimular’ o consumo, bem pelo contrário, devíamos convencer as pessoas a poupar, se queremos ser mais prósperos no futuro.

  10. A poupança dos particulares que têm aversão ao risco é canalizada para o investimento através do sistema bancário. A poupança dos particulares que não têm aversão ao risco é investida por estes directamente na economia, ou criando empresas, ou investindo no mercado imobiliário, ou de qualquer outra forma (há muitas). Agora, para que tudo isto funcione, torna-se necessário olear a engrenagem. A esse óleo chama-se consumo, se preferir, despesa, ou seja, as empresas que aqueles que não têm aversão ao risco possuem, querem ver as suas produções escoadas. Para isso, tem de haver rendimento disponível na economia (empresas e particulares) para o consumo, em sentido lato (com ‘sentido lato’ quero dizer, no sentido em que o homem não vive só para comer, trabalhar e dormir, estes seriam consumos básicos, mínimos de subsistência, necessita, também de consumir para lazer e de consumir para servir o espírito – mais normalmente chamado ‘consumo cultural’). A galinha não dá ovos se não comer; a economia não produz riqueza, se não produzir (passe o pleonasmo)! Penso que é neste ponto que está a questão da deflação ou inflação. Prefiro um bocado, controlado, de inflação a uma economia deflacionada.

  11. Não tenho formação em economia, mas, parece-me que o problema da deflação só se põe para as empresas financeiras como bancos, seguros, que costumam funcionar com a desvalorização do dinheiro sentiriam dificuldade em gerir o dinheiro dos depositantes se este começasse a valorizar e os depositantes não estão predispostos a pagar para lhes guardarem o dinheiro.

  12. Sr. Paulo, penso que está a confundir deflação com desvalorização. Enquanto que o principal efeito da deflação é interno (excesso de quantidades oferecidas face às quantidades procuradas o que leva à baixa dos preços), já a desvalorização tem o seu principal efeito a nível externo (os nossos produtos ficam mais baratos, enquanto os bens importados ficam mais caros). A deflação baixa todos os preços inclusive o dos salários(o salário também é um preço).

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