Eis uma sugestão de leitura para hoje contendo reflexão política com potenciais consequências económicas, do jornal I “A esquerda não tem uma alternativa eficaz e coerente” em entrevista a Pedro Adão e Silva que apresenta um livro recentemente editado “E Agora?”. Um excerto:
“(…) Quando é que se perdeu a capacidade de correr riscos dentro dos partidos?
Aquilo que é uma característica das democracias consolidadas, a profissionalização dos políticos, em Portugal ocorre num contexto diferente. Ficámos com a pior parte da profissionalização da política sem ter o lado do enraizamento e da participação social dos países do Norte. E isso faz com que a disponibilidade para correr riscos seja diminuta, porque as pessoas dependem profissionalmente das decisões das estruturas partidárias. Isso também cristaliza o poder nos partidos. A partir do momento em que há a percepção de que existe um vencedor, ninguém vai querer deixar de estar com esse vencedor interno, porque as pessoas querem continuar a ser deputados, eurodeputados, vereadores. Tudo isso estabiliza a estrutura de poder dentro dos partidos.
Escreve no livro que o Tratado de Estabilidade deixa de pés e mãos atadas os sociais-democratas. Diz que foi péssimo os socialistas terem-no assinado, mas que não poderiam deixar de o fazer. Porque é que era impossível não o assinar? Os sociais-democratas não deveriam ter corrido esse risco?
Mas quais sociais-democratas? Não há uma coligação social-democrata transnacional na Europa. As primeiras reacções à crise de 2008 rapidamente assentaram numa fragmentação das respostas. O principal absurdo no início desta crise foi a incapacidade da Espanha e de Portugal fazerem uma coligação política a nível europeu. Os países rapidamente começaram a individualizar estratégias e a sublinhar as diferenças em vez de sublinhar aquilo que era o problema estrutural. A partir daí estava aberto o caminho para a fragmentação que existe hoje. Um partido isolado num determinado país pode rejeitar e refutar o tratado orçamental? Não. O tratado é politicamente viável para um partido de centro-esquerda? Não. Isto só demonstra a dimensão dos bloqueios. E serve para contrariar a ideia, que é uma ideia da social-democracia, de algum optimismo histórico, a ideia de que o progresso é quase uma marcha imparável da História. Não é assim. As nossas sociedades estão cheias de períodos longos de declínio e de retrocesso e a dimensão dos bloqueios que hoje enfrentamos pode bem mostrar que estamos perante um desses períodos de declínio e de retrocesso. Como é que se resiste em termos de comunidade, em termos políticos, em termos institucionais a esse período de retrocesso? Muito mal. (…)”