A propósito deste texto de Pedro Lains “Subprime à portuguesa ou os tubarões do crédito” acho oportuno discorrer mais uma vez sobre o assunto.
Pedir dinheiro emprestado deve ser sempre um acto ponderado, projectado no futuro em termos de consequências e assumido como uma responsabilidade que deve ser honrada.
Comprar hoje para pagar amanhã é quase sempre comprar para pagar mais caro ou mesmo muito mas caro face a um pagamento a pronto.
Apenas quando a utilidade (o retorno esperado do que se compra) e a urgência o justificam se deve recorrer ao crédito. Comprar a crédito é tão menos recomendável quanto maior for o peso da impulsividade na decisão de compra.
Recorrer sucessivamente a compras a crédito (penso essencialmente em consumo corrente) significa, em regra, perder a médio prazo poder de compra, ou seja, perder capacidade de poupar e/ou consumir.
Se está decidido a recorrer ao crédito nunca deve aceitar a primeira proposta que lhe façam ou sequer a mais promovida pela publicidade. Não porque sejam piores à partida, mas apenas porque poderão estar longe de ser as melhores.
Agarre num caderninho (ou no seu substituto moderno em suporte digital) e tome nota das taxas de juro, do prazo de pagamento, das comissões e eventuais penalizações por se propor amortizar antecipadamente o empréstimo, entre outros. Note que se lhe disserem que emprestar é fácil e não exige burocracias, provavelmente quem lhe quer emprestar cobrar-lhe-á um juro maior do que o praticado por uma instituição mais “chata”. Porquê?
Imagine que era você a emprestar dinheiro. É natural que empreste dinheiro a um juro mais simpático a quem já conhece e de quem tem provas de ter capacidade de pagar do que a um perfeito desconhecido. A lógica dos emprestadores profissionais é a mesma: menos informação implica maior risco de o empréstimo não ser pago logo, o prémio de risco a acrescentar ao juro final terá de ser maior de forma a que os que acabem mesmo por pagar mais que compensem as perdas associadas àqueles que passem o calote ao emprestador.
Devemos exigir clareza a todas as empresas que se propõem a emprestar dinheiro de modo a que cada um, minimamente informado, possa comparar adequadamente as diferentes propostas. Devemos também garantir que todos tenham a formação mínima para poder fazer essa mesma avaliação, ou, pelo menos, devemos garantir que tenham forma de recorrer a quem lhes dê esse apoio.
Regular, exigir o cumprimento dos regulamentos e penalizar as ilegalidades apuradas após fiscalização das instituições emprestadoras deve também fazer parte de todo o processo de salubridade deste mercado.
Banir ou proibir a publicidade das empresas que se propõem emprestar dinheiro e que respeitem os regulamentos estabelecidos, porque ainda assim há incautos, não deve ser a solução para o problema.
eu fico chocado com o “receba o seu IRS antecipadamente”
isso deixa-me profundamente deprimido.
os que as instituições fazem é absolutamente macabro.
Era bom que essa regulação funcionasse. Mas infelizmente não acredito que funcione só por si. Por exemplo, algumas taxas de juro que se cobram por cá em créditos pessoais são considerados usura em França e são mesmo ilegais.
Em minha opinião não há outra alternativa senão limitar o montante global que o sistema bancário português pode emprestar para créditos pessoais. Tipo mercado de poluentes. Limitar o montante máximo existente na economia para controlar o impacte global (negativo) na sociedade. E deixar a concorrência fazer o resto num mercado que se pretende seja bem informado obrigatoriamente pelos seus agentes.
Aqui no Brasil os juros do empréstimo, cartáo de crédito e cheque especial são simplesmente absurdos….
Dani Edson