Outra referência do dia na área da regulação é a entrevista concedida por Carlos Tavares, actual presidente da CMVM ao Diário Económico. Há alertas, avisos e recomendações para quase todo o tipo de actores no mercado mobiliário e, naturalmente, são abordados os casos mais mediáticos dos últimos tempos. BCP, IPO da EDP Renováveis e o comportamento do mercado em geral constituem alguns dos pontos de interesse da entrevista.
Leitura recomendada para quem está mais próximo destas questões mas também para quem tem curiosidade em perceber para que serve um regulador.
Fica aqui um excerto que aborda um tema já aqui (“Qual é o melhor Research a avaliar e a prever a evolução das acções?“) referido há algum tempo:
“Era normal o elevado número de recomendações de compra que existia há um ano?
Encontrámos esse fenómeno. Aliás, recomendamos que seja divulgada a distribuição das recomendações entre compra e venda, até para que o mercado possa julgar se existe ou não excesso de optimismo sistemático de determinados intermediários. Mas há, de facto, uma tendência que nos preocupa. Há que garantir a independência da análise financeira em relação ao próprio negócio do mercado de capitais, mas também em relação às áreas comerciais e de banca de investimento do grupo a que pertencem os analistas. Nós sabemos que os clientes da banca não gostam de ver recomendações de venda, de ver os ‘price targets’ a descer. Consciente ou inconscientemente, isto acaba por influenciar os analistas. Não digo que recebam instruções nesse sentido ou que não sejam independentes, mas acho que, inconscientemente, e até porque têm contacto directo com as empresas, acabam por ser mais sensíveis às boas notícias do que às más. Isto não é um problema exclusivo do mercado português, mas sim da análise financeira em geral. A função do analista é muito importante, é uma das funções-chave do mercado de capitais, mas é muitas vezes preenchida por jovens acabados de sair da faculdade. O que não tem mal nenhum se forem devidamente enquadrados. Só ao fim de alguns anos os analistas começam a dominar a matéria. Nas grandes casas internacionais vemos analistas com vinte anos de experiência e que continuam a fazer análises e são habitualmente os melhores. Há muito trabalho a fazer nesta matéria, e ainda por cima o mercado português é mais sensível à análise financeira, por ser mais pequeno e muito concentrado num pequeno número de títulos.”