De uma associação que responde pelo nome ASSOFT poder-se-ia pensar que teria cuidado para não chamar os portugueses de burros. Mas foi o que a Assoft tentou na semana passada. O truque é conhecido: uma press release com um argumento absurdo e previamente formatada para servir em copy&paste a redacções sôfregas por mostrar serviço e sem a devida formação para enviar a press release directamente para o caixote do lixo ou pelo menos indagar por alguém independente que possa verificar ou refutar as alegações. Para maior impacto ensaia-se a defesa do bem comum, neste caso o IVA que o Estado “perdeu”. Com base na última “notícia” da Associação Portuguesa de Software os media produziram artigos com os seguintes títulos:
- Pirataria informática custa 91,5 milhões ao país Exame informática online
- Fisco perde 91,5 milhões com pirataria informática Diário Digital
Os 91,5 referem-se ao IVA que supostamente terão ficado por cobrar à conta do software pitata. Como o leitor já deverá ter percebido tal não corresponde à verdade.
Primeiro, porque se os portugueses que usam software pirata tivessem de pagar pelo software em vez de o obterem gratuitamente teriam comprado uma quantidade consideravelmente menor de software e optado por soluções mais económicas; nada mais elementar que a lei da oferta e da procura. Quem usa o Photoshop pensaria duas vezes antes de desembolsar várias centenas de euros pela licença do programa e poderia muito bem concluir que o Paint Shop Pro serve perfeitamente para as necessidades e custa apenas 20%. Outros dar-se-iam por satisfeitos com software livre, como o Gimp.
Segundo, o dinheiro que os portugueses deixam de gastar para comprar software gastam-no na compra de outros bens ou serviços, sobre os quais incide IVA ou poupam-no, promovendo o investimento.
Sendo o software português ou a componente do produto produzida em Portugal que é pirateado uma percentagem extremamente reduzida do seu preço final, pode-se afirmar que a pirataria informática promove o crescimento económico, via o aumento da despesa e da poupança? Pode ser verdade ou não. O que se pode certamente afirmar é que o título desta entrada faz mais sentido do que as notícias que a Assoft colocou a circular.
Convém não esquecer que, sem pôr em causa a responsabilidades de quem instala e utiliza software não licenciado, estes actos são muitas vezes facilitados pelas próprias empresas do sector, seja pela presença activa nos canais dedicados à pirataria, seja pelo forma acessível como muitas das protecções anti-pirataria podem ser contornadas. Os incentivos das empresas para este aparente tiro no pé são o aumento da quota de mercado, externalidades de rede e o efeito lock-in sobre utilizadores e empregadores. Nas palavras do próprio Steve Ballmer, presidente da Microsoft, “se vai piratear software, ao menos que seja da Microsoft“.
Bravo. Finalmente alguém com percepção da realidade.
Não terei conhecimento de causa suficiente para esclarecer se “a pirataria informática promove o crescimento económico”, mas certamente que promove o acesso das massas às Tecnologias de Informação.
Apesar de hoje em dia existirem alternativas (nem sempre completas) grátis para os principais programas existentes, o que não acontecia há não muitos anos atrás, o acesso fácil e barato (ou a custo zero) possibilita que muitos portugueses se consigam educar e formar em ferramentas imprescindíveis, às quais dificilmente teriam acesso caso tivessem de as comprar.
E esse acesso permite termos uma população mais conhecedora e com mais experiência em TI e, arriscaria dizer, com maiores potenciais de eficiência no mundo empresarial.
Bom artigo. Já discuti imenso acerca deste assunto e o meu ponto de vista incide sempre sobre o mesmo:
1. Invariavelmente as pessoas gastam o mesmo. Logo, se comprarem software alguma coisa terá de ficar para trás. Conclusão o IVA que caminha para os cofres do Estado é sempre o mesmo;
2. Alguns destes estudos baseiam-se nas prováveis instalações. Ora, como todos sabemos, exceptuando alguns jornalistas e ASSOFT, a grande maioria destas instalaçõe snão existiria caso fossem compradas. Muitos computadores estão carregados de tralha que nunca são usados. Logo, nunca poderiam contar para a estatística;
3. Em todo o modo, a pirataria é ilegal. A resposta à ASSOFT só poderá ser dada com a adopção generalizada de software livre e aberto.
@braço.
Esqueci-me de referir a pressão da pirataria sobre o pricing das empresas – preços/descontos/fornecimento gratuito de software. Se o tivesse feito poderia provavelmente ter dito que provavelmente a pirataria contribui para o crescimento…
E em matéria de lembretes, tinha visto um artigo do JCD algures no blasfemias, foi de la que colhi a informação sobre a poupança dos individuos. Melhor acrescentar ao artigo antes que me acusem (outra vez ) de plagio… 😉
Ola eu só queria dizer que este site está muito fixe 😀 BJinho
Obrigado Ricardo.