O artigo de ontem (5 OUT 2006) do Jornal de Negócios, da autoria do jornalista Nuno Carregueiro, “Trichet sinaliza que Banco Central Europeu vai continuar a subir juros”, interpreta o sentido das palavras do presidente do BCE e permite responder à questão aqui colocada nesta e nesta entrada. Daqui a um mês, como sublinha o jornalista do Jornal de Negócios, todos estarão a ouvir Trichet à espera da expressão: “forte vigilância“. Se ela for proferida, os juros aumentarão em Dezembro, caso contrário, provavelmente a novela fica em suspenso por mais algum(ns) mês(es).
Confirma-se, em larga medida, que se regista uma alteração subtil nas justificações para a manutenção da política monetária recente do BCE. Uma subtileza a que se associa uma maior incerteza quanto aos momentos para novas intervenções do BCE.
Se é verdade que Trichet repetiu o enquadramento historicamente baixo para o nível das taxas de juro actuais, também não deixa de ser verdade que menorizou a evolução recente da taxa de inflação na Zona Euro, preferindo relevar as previsões elaboradas pelo BCE que apontam para uma inflação no final do ano e no ano seguinte acima do já aqui referido limiar dos 2%.
Peguemos neste aspecto e recuperemos alguma da história recente das intervenções do BCE. É relativamente consensual que com o lastro de evoluções homólogas mensais acima dos 2% nos primeiros 8 meses do ano (até Setembro) a inflação na Zona Euro encerre o ano acima desse limiar. Mas é também provável que, a manter-se a actual conjuntura política na cena internacional, os últimos meses do ano fiquem marcados pela queda nos preços do petróleo e seu derivados, contribuindo para uma sequência de desaceleração da inflação. Ora se é verdade que o BCE continuará (como sempre) preocupado e atento à evolução de médio e longo prazo do nível de preços, é também verdade que o mesmo BCE aumentou recentemente a frequência das subidas do preço do dinheiro coincidindo com o período de aceleração do preço dos produtos petrolíferos.
Será que perante o abrandamento do ritmo das tensões inflacionistas de curto prazo, o BCE reagira regressando a uma toada mais pausada nas suas intervenções sobre as taxas de juro? Esta parece que será a pergunta que se segue nesta novela que tanto estimula o estudo da hermenêutica entre economistas, jornalistas e leigos.
Uma nota final para a referência ao diferencial das taxas de juro entre a Zona Euro e os EUA que poderão registar um período de convergência com a expectativa de reduções das taxas de juro nos EUA e a referida manutenção dos incrementos na Zona Euro. Seria interessante inquirir junto do BCE que relevância tem o diferencial e a análise comparativa do ciclo económico dos EUA e da Zona Euro na determinação da política monetária do BCE. Se por ventura se confirmar um final de ano com uma evolução favorável da taxa de inflação, julgo que será incontornável colocar esta e outras questões que procurarão sempre responder ao que é que é preciso acontecer para que o BCE altere o seu regime de intervenções monetárias. Mas já me adianto nos capítulos da novela. Uma pergunta de cada vez.