Em jeito de último capítulo da novela “Inflação 2008”, o INE apresenta-nos hoje a cena final com a taxa de variação homóloga a atingir o valor mais baixo desde que há registos comparáveis: nunca os preços tinham subido tão pouco quando se compara a evolução mensal entre dois meses separados por um ano (meses homólogos).
A variação homóloga foi assim de 0,8%, mas atenção, o diferencial face à inflação subjacente aumentou em Dezembro. O que quer isto dizer? A inflação subjacente não inclui, nem os produtos energéticos, nem os produtos alimentares, precisamente duas das classes de despesa que mais contribuiram para a desaceleração da subida de preços. Este indicador cresceu 2,0% entre Dezembro de 2007 e Dezembero de 2008, ou seja, uma variação de mais 1,2 pontos percentuais se tomarmos a indicador global (com energéticos e alimentares).
Talvez a descida de preços ao nível dos transportes (energéticos) se venha a reflectir de forma desfasada no resto da economia e o diferencial se venha a reduzir, mas, para já, o risco de deflação é ainda relativamente reduzido. Em todo o caso, será muito interessante observar o que se passará em Janeiro pois, aparentemente, algumas das actualizações automáticas de serviços e afins (incluindo aqui o efeito da descida do IVA em meados de 2008) poderão ficar significativamente abaixo ou, quanto muito, em linha com o que aconteceu em Janeiro de 2008.
Teremos novo recorde em baixa para a taxa de variação homóloga? Daqui a um mês saberemos.
A taxa média de inflação fechou assim nos 2,6%, mais meio ponto percentual do que o perspectivado pelo Governo quando realizou o Orçamento de Estado de 2008.
Entretanto, a inflação na Zona Euro fixou-se em Dezembro abaixo dos 2% e o BCE já desceu novamente a taxa directora para 2%. Ainda assim, um dos valores mais altos praticados pelos bancos centrais das principais economia mundiais.
Uma nota final: a perspectiva de um forte aumento real das remunerações entre os trabalhadores da administração pública, ao longo de 2009, é hoje uma certeza. Uma taxa de inflação em 2009 claramente abaixo dos 2% é altamente provável.
Bem vistas as coisas mais um falhanço rotundo na previsão da inflação para 2008. E, nem sequer estamos a falar de um erro de uma ou duas décimas. Numa gestão por objectivos é totalmente admissível e um émbuste, o que até já não é de espantar, face à experiência “adquirida” neste matéria, ao longo dos últimos 4 anos.
Quanto ao ganho (relativo) do poder de compra dos portugueses ( não desempregados e alguns reformados), só para aqueles que tenham aumentos digamos superiores a 2,5%, mas …
Falar em forte aumento real é uma expressão um pouco excessiva para quem perdeu entre 8% a 11% de poder de compra nos últimos anos (no sector público e alguns do privado). Até porque os escalões de IRS também foram actualizados em taxa de 2,5% e não e 2,9%.