Classe Média - Dados de 2016

Os lucros da Banca e a docilidade dos clientes bancários

Já aqui nos referimos ao tema que faz o título deste artigo, tal como também temos vindo a tentar fazer alguma pedagogia do lado do consumidor no seu relacionamento com a banca, mais que não seja sugerindo uma análise comparada das melhores taxas de juro (poderíamos fazer o mesmo para o crédito, para os investimentos em bolsa, etc). E por tudo isto abre-se espaço para dar eco de uma estalada aos consumidores/clientes/contribuintes oferecida ontem por João Candido da Silva no Editorial do Jornal de Negócios. Fica o excerto mais significativa sobre este tema:

" (…) Tudo isto é discutível. Mas o que mais surpreende é que raramente alguém atribua o sucesso da banca portuguesa a um simples facto que explica muita coisa, quando se trata de analisar os motivos por que os lucros dos bancos superam recorde atrás de recorde. É que os clientes são, em geral, muito pouco habilidosos na gestão dos seus interesses, embora sejam excelentes, ainda que de forma involuntária, a gerir os interesses das instituições financeiras. Subscrevem produtos caros e pouco rentáveis, aplicam um boa parte do seu dinheiro em depósitos mal remunerados e, para completar o quadro, endividam-se por tudo e por nada.

Entre a irresponsabilidade e a iliteracia dos devedores, as empresas de crédito ao consumo até já conseguem captar quase um terço dos seus novos clientes através de uma simples mensagem sms enviada para os telemóveis. Os lucros da banca são elevados? Sem dúvida. E a culpa é dos consumidores."

Se é verdade que a posição de poder da banca sobre os clientes em muitas das relações comerciais que se estabelecem trás vantagens à instituição financeira que acabarão por se reflectir nos lucros, também é verdade que há margem para, enquanto clientes, reduzirmos a margem de manobra dos bancos. Em suma, o alerta de João Cândido da Silva pecando por ser demasiado simplificador, não deixa de se justificar plenamente.

Não podemos demitir-nos de escrutinar o negócio que em última análise estamos a fazer com a outra parte. Cuidar que tudo deve ser regulado não é uma atitude que deva bastar (ou sequer guiar) a defesa dos nossos interesses. Ter os olhos bem abertos, procurar informação e ter uma atitude não-passiva nunca terão feito mal a ninguém em nenhum negócio. É preciso fazer um upgrade aos clientes bancários.

Um comentário

  1. Mais um problema de assimetria de informação… Deu um “Nobel” a sua formulação teórica.

    Passado tanto tempo e aprendizagem, parece que muita gente (incluindo os que passam pelos cravos das Faculdades) se vai esquecendo de algum do conhecimento económico que vai sendo formulado e supostamente deveria ser adquirido, tão clara e simples é a sua formulação.

    Enfim, se nem algumas das nossas supostas elites o parecem descortinar de imediato, uma vez que vai sendo apresentado quase como “inovação” a sua constatação, o que dizer do resto do povo português? Para além do “hidden bank factor” ainda têm que lidar com estas ineficiências brutais, que lhes afectam o bolso seriamente sem o perceberem. Não há redistribuição, por muito eficaz que seja o sistema implementado, que aguente!

    MJ

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