Porque é que o PIB nominal é importante

É preciso recuar ao quarto trimestre de 2015 para encontrar uma variação homóloga do PIB contabilizado a preços correntes superior aos 3,4% registados nos primeiros três meses de 2017 (ver dados do INE). Mas porque é que o PIB nominal é importante?

Se apurarmos qual é o crescimento do PIB no ano acabado em março de 2017 – sempre a preços correntes, ou, dito de outra forma, em termos nominais – concluiriamos que a economia portugueses cresceu 3,1% nesse ano (também em aceleração caso fechassemos o ano três meses antes onde cresceu 3,0%).

 

O que é o PIB em valor e em volume?

O apuramento do PIB ao preços correntes (PIB em valor) não é tão relevante para apurar o andamento da economia quanto o PIB a preços encadeados (PIB em volume) porque o primeiro considera o valor da riqueza gerada (incluindo o efeito dos preços, a “inflação”) enquanto que o segundo se centra no volume (a quantidade efetivamente gerada) eliminando, na medida do possível, aquilo que é aumento dos preços e não o aumento da produção, da equação.

Contudo, em especial num país com uma dívida externa elevada, conhecer o ritmo ao qual o PIB em valor vai crescendo é muito relevante. Em especial quando esse crescimento é medido na mesma moeda em que está titulada a dívida – no nosso caso em euros.

É possível que um país não tenha aumentado a sua produção de um ano para o outro e que, contudo, os produtos e serviços que produziu se tenham valorizado, ou seja, e simplificando, tenham sido vendidos mais caros no segundo ano face ao primeiro. Nesse caso, enquanto o PIB em volume estagnou, o PIB em valor terá crescido.

No caso presente, o PIB em valor cresceu 3,4% no primeiro trimestre de 2017 quando comparado com igual período de 2016, mas cresceu um pouco menos em volume: 2,8%.

 

Porque é que o PIB em valor é importante quando há uma enorme dívida externa para empresas, famílias e Estado pagarem?

Porque a dívida se paga com valor ou, por outras palavras, porque a dívida, tipicamente, está registada em valor, em unidades monetárias e não em volumes, em quantidade físicas de produtos ou serviços. O peso da dívida no PIB é por isso calculado usando o PIB em valor e não o PIB em volume.

Para sabermos se o peso da dívida está a aumentar ou diminuir, temos então que comparar o ritmo a que a dívida terá crescido num ano, com o ritmo a que terá crescido a riqueza gerado nesse ano a preços correntes. O PIB nominal é importante porque esse PIB será o capital máximo disponível ao qual se poderá tentar aceder para pagar o que se deve.

Se a dívida tiver crescido 3% no ano terminado em março de 2017, terá crescido mais lentamente do que o valor monetário gerado em toda a economia nesse mesmo período (3,1%) e, como tal, terá diminuído de peso nesse período. Note que 3% é mais do que o PIB em volume – nesse mesmo período – o PIB em volume cresceu apenas 1,9%.

 

Confuso? Eis um exemplo mais lá de casa

Imagine que o seu salário aumentou de um ano para o outro em 3,4% e que esse aumento é exatamente igual ao aumento da inflação. O seu poder de compra, em princípio, manteve-se igual pois o dinheiro disponível cresceu ao mesmo ritmo a que cresceram os preços dos produtos e serviços que habitualmente compra.

Imagine agora que tem um crédito à habitação a pagar e que o valor desse crédito antes do aumento do salário era de €50.000 e que no final do ano, após o aumento continuava a ser de €50.000 ( para simplificar a nossa comparação imaginamos aqui que teria estado o ano inteiro só a pagar juros sem amortizar capital).

Ora após o aumento do seu salário, como o valor do empréstimo não sofreu qualquer aumento pela taxa de inflação pois é fixo e definido por contrato, a sua capacidade de fazer face à dívida aumentou pois o seu rendimento disponível é agora relativamente maior do que era face ao valor que tem em dívida – que se manteve estagnado.

Vamos supor que o seu salário anual no seu agregado familiar, antes do aumento, era de €50.000. Ou seja, ganhava por ano exatamente o que seria preciso para pagar todo o crédito. Outra forma de dizer isto é afirmar que o peso da dívida no rendimento anual lá de casa era de 100%.

Feito o aumento, o salário do seu agregado familiar passou a ser de €51.700. Ou seja, o seu rendimento anual passou a ser superior ao total do empréstimo e o peso da dívida sobre o rendimento lá de casa passou a ser de 96,7%; como seria de esperar, mais baixo.

O paralelo com o PIB é este: o seu salário considerando o aumento de 3,4% é o PIB nominal e o seu salário corrigido do aumento dos preços dos produtos e bens que consumo (que no exemplo anulam o aumento do salário) seria o PIB em volume.  Já agora, a forma de corrigir esse efeitos dos preços quando falamos do PIB faz-se através do deflator do PIB, uma construção do INE atualizada regularmente com dados sobre preços dos vários produtos e serviços.

Como o que conta para pagar a dívida são os euros que efetivamente tem disponíveis, o que releva para calcular o esforço do serviço da dívida é o PIB nominal.

Se esta situação se acumular ao longo de vários anos, o peso em termos reais do seu empréstimo iria diminuir e se no início a renda anual se calhar lhe levava 30% do salário, ao fim de alguns anos só lhe levaria metade ou menos do que isso tudo dependendo de o “preço do dinheiro em dívida” (que na prática seria medido pelo juro que no nosso exemplo assumimos implicitamente ser fixo) crescer mais lentamente do que o seu rendimento disponível.

 

Conclusão

Dito isto, sendo muito importante que a economia nacional cresça em termos reais (que é o mesmo que dizer em volume ou nas quantidade produzidas) é também muito importante que a nossa produção anual seja inflacionada, ou seja, que tenha cada vez mais valor na moeda em que a nossa dívida esta registada.

Se assim for, podemos até ter um défice todos os anos (o défice é um dos fatores que leva ao crescimento da dívida). Ele será sustentável desde que não leve a dívida a crescer mais depressa do que a velocidade a que crescem os recursos para a pagar.

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