Os certificados do tesouro poupança mais são uma ameaça à banca nacional?

Na sequência do artigo “Certificados de aforro só batem novos certificados do tesouro em prazos curtos” publicado no Melhores Depósito a Prazo prosseguimos uma pequena série sobre este tema aqui no Economia & Finanças.

O sucesso inicial dos certificados do tesouro poupança mais já provocou declarações de desagrado por parte de alguns banqueiros nacionais. Nuno Amado, do BCP, assumiu, por exemplo que se a captação de poupança por esta via superar os €2 mil milhões haverá consequências danosas para as disponibilidades da banca em conseguir emprestar dinheiro à economia.

O raciocínio é simples: os montantes captados pelo Estado são montantes perdidos pela banca. E, ainda que possa haver transferências importantes entre produtos da dívida pública (rebater certificados de aforro para subscrever certificados do tesouro) ou verbas noutros destinos e aplicações que regressem ao sector financeiro para financiar a dívida pública, é natural que o banqueiro possa ter alguma razão, a prazo. Pelo menos no que se refere à transferência de ativos da banca para a dívida pública.

Contudo, temos de sublinhar que o sector financeiro nacional tem vindo a canalizar muitos dos recursos que capta, inclusive crédito obtido junto de organismos oficiais (como o BCE) para acumularem eles próprios dívida pública,  obtendo o diferencial não despiciendo entre a taxa de juro que pagam a aforradores (depositantes) e credores (BCE) e aquela que obtêm dos títulos da dívida pública. Esse dinheiro, obviamente não está a ser enviado para a economia, pelo que o racional atrás referido fica prejudicado, no sentido em que um euro de depósitos não é necessariamente um euro para emprestar à economia. Mais provavelmente será um euro para emprestar ao Estado.

Ao criar este produto, o Estado está a aceder diretamente ao pequeno investidor, eliminando o poder od intermediário e reduzindo o custo do crédito que obtém. Do ponto de vista da estrita racionalidade da gestão da dívida pública, a opção agora tomada é inatacável, ou melhor, peca por tardia.  Em todo o caso, esta reação da banca e a sua fragilidade, não será alheia ao facto de a criação deste produto de poupança do Estado ter sido sucessivamente anunciada (prometida já em governos anteriores) e só agora, após garantida alguma estabilidade de capitais na banca, lançada ao público.

Ainda assim, fica no ar a perspetiva de que o sucesso algo inesperado desta aplicação pode vir a ser uma razão importante para uma eventual suspensão de novas subscrições a prazo, caso, de facto, a poupança acumulada atinja valores da ordem de grandeza sinalizada pelo Estado (conta arrecadar €1,5 mil milhões em 2014) ou pelos banqueiros (que referiram alarme caso supere os €2 mil milhões).

No próximo artigo abordaremos a questão “Está o juro pago nos certificados do tesouro desalinhado com o mercado e com as recomendações do regulador?

 

5 comentários

  1. a situaçãopenso que seja mais grave,ora vejamos:
    A banca é responsável pela crise que surgiu.
    por sua vez fica aliviada em termos de impostos e os pequenos contribuintes estão a pagar o que é da responsabilidade da banca.
    Por sua vez a banca faz com que o dinheiro eprestado seja para capitalizar a banca .
    a banca em vez de investir uma parte na economa interna e outra na bolsa, não desvia todos os recursos financeios para o exterior do país.
    força os pequenos empresários à falencia, porque não lhes disponibiliza o dinheiro que precisam para mecher.
    e explora os pequenos investidores, porque não existe nenhuma mais valia ou é tão reduzida que nem é considerada. com as taxas que paga pelo dinheiro, bem podia contribuir com mais alguma coisa para as taxas de juro ou pequenos investimentos.
    e por fim tem um peso exagerad em termos de recursos humanos , que é o mauir empregador , tanto em termos do n de pessoas, como de valores remuneratórios pro cada empregado.e a sua produção para o PIB é zero.
    não transforma nada praticamente. isto é que é um peso morto na nossa economia.
    Bom dia
    francisco Jorge

  2. A sofreguidão agiota dos banqueiros não tem limites. Depois de todos nós andarmos a pagar as suas incompet~encias, ainda escondem o que resta no estrangeiro, têm acesso às obrigações do tesouro( coisa que não é acessível a comum do aforrador), não coloca dinheiro na economia ( porque prefere te-lo em offshores), ainda por cima são de um egoísmo doentio quando o estado dá migalhas a quem quer poupar alguma coisa. por mim faliam todos.(os bancos)

  3. A falta de concorrência das varias entidades bancarias,tem penalizado seriamente os aforadores,suspeitando-se até de uma cartelização as taxas oferecidas são absolutamente desprezíveis,não é esta a forma de promover a poupança,apenas com estímulos e incentivos tal pode ser alcançado.E o producto agora lançado certificados do tesouro,pena é que tenham chegado tardiamente.Pois o estado não teria despendido tantos milhões pagos em juros ao exterior.Como tal só pecam por ter chegado tarde..

  4. É natural que a banca queira ser intermediaria. O que não é normal é os governos andarem sempre a fazer-lhes a vontade.
    Todos se devem de lembrar de quando o ministro Teixeira dos Santos, alterou a remuneração dos Certificados de Aforro de acordo com os interesses do negócio bancário. Dizia ele na altura que o Estado estava a perder dinheiro. Não se sabe ao certo o que é que a banca deu e/ou Prometeu ao Governo, mas a banca portuguesa discretamente assegurava o financiamento do estado sempre que este colocava dívida no mercado.
    Depois da banca deixar de ter condições para assegurar o financiamento do Estado, este foi forçado a criar os Certificados do Tesouro.
    Por intervenção discreta da banca a sua comercialização foi suspensa. (os favores continuaram).
    Agora temos mais uma modalidade de Certificados do Tesouro, falta saber por quanto tempo? A banca já está a exercer o seu poder de influência. E que eu saiba eles sempre têm saído favorecidos com as decisões governamentais.

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