Baixos salários na periferia invadem centro e alimentam deriva protecionista na Europa?

(Opinião)

O Primeiro Ministro belga queixa-se de “dumpling social” porque há portugueses que aceitam ir para a Bélgica trabalhar por €2,06/hora e avança que a livre circulação de pessoas na União Europeia está a gerar “abusos” e tem de ser reavaliada (ver aqui).

O primeiro-ministro britânico David Cameron (com apoio da Alemanha, Áustria a Holanda) exclama que “Free movement within Europe needs to be less free” (ver aqui) advogando que os imigrantes estão a colocar os respetivos estados sociais sob stress e antecipando que, com o liberdade de circulação para búlgaros e romenos a entrar em vigor a 1 de janeiro de 2014 a situação se “agrave”.

Na França, os baixos salários espanhóis também começam a inquietar políticos e empresários.

Tudo isto são sinais de como as assimetrias regionais dentro de uma união económica e (para a maioria dos europeus) também monetária, gerarão reações e consequências que estão longe de se restringir às fronteiras dos mais afetados, em cada momento, por essas mesmas disparidades. Os mesmo que invocam a necessidade de “reformas” noutras paragens parecem ter ignorado toda a cadeia de eventos que naturalmente se lhe segue num espaço comum reforçado como é a União Europeia. Nem só licenciados procuram emigrar e, atualmente, muitos podem fazê-lo sem se converterem em emigrantes permanentes. Maravilhas da flexibilidade de deslocação! Paradoxos de uma Europa que se quer comunitária cada vez mais apenas no que interessa estrita e imediatamente o suposto interesse nacional mais populista do minuto. Tudo patrocinado por uma profunda ignorância histórica e capacidade de aferição das vantagens reais nacionais e coletivas que se podem (e têm vindo) a colher numa perspetiva menos imediatista desde que a Comunidade Europeia foi fundada.

O dilema sobre como lidar com o Norte de África, em larga medida, está agora a migrar para norte, sendo o sul da Europa e a região mais meridional do leste europeu, a nova linha de fronteira. Só que uma fronteira num contexto sem fronteiras efetivas. Solução? Erguer fronteiras? Rever a circulação de pessoas? Introduzir castas no acesso a direitos básicos conferidos a residentes?

O redesenho da Europa parece de facto estar em curso mas não necessariamente rumo ao ideal que levou à fundação do projeto europeu há mais de 60 anos.

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