A melhor entrevista sobre a crise está hoje no Negócios – Dani Rodrik

Destacamos um excerto da extensa e informativa entrevista/reflexão de “Dani Rodrik: Se Portugal saísse do Euro, a recuperação poderia chegar num ou dois anos“(só para assinantes) a Nuno Aguiar do Jornal de Negócios.

” (…) Para um país pequeno como Portugal, no longo prazo seria melhor sair do euro? Mesmo que isso signifique enfrentar muitas dificuldades nos primeiros anos?
É uma pergunta muito difícil. Apenas podemos falar de probabilidades. Com o actual caminho, vejo a economia portuguesa ser arrastada por um período muito, muito longo de desemprego elevado e procura baixa. Se Portugal saísse da Zona Euro, os efeitos imediatos seriam muito duros, mas com hipóteses de uma recuperação num ou dois anos. Saber se o país quer ir numa direcção ou na outra, é uma decisão política. Mas quanto mais tempo ficarmos neste pântano, mais forte será o argumento para sair.

Antecipa que o futuro de Portugal passe por crescimentos baixos, em torno de 1%, com desemprego alto e investimento deprimido?
Essa é a versão mais optimista do meu cenário.

Optimista? Então qual é a versão pessimista?
Falou de um crescimento de 1%. Sem crescimento populacional, esse valor não é mau de todo. Mas acho que pode acabar por ficar perto da recessão, com trimestres ocasionais de crescimento, mas nada que empurre a economia para a frente.

Daquilo que conhece do tecido produtivo português, deveríamos procurar ser mais chineses ou mais alemães?
Portugal tem muito que andar para competir com a China ou outros países asiáticos e isso significaria reduzir os custos laborais a um nível ridículo. O objectivo de Portugal deveria ser desenvolver um sector transaccionável sofisticado, que possa competir com a Alemanha. Mas precisamos de perceber que a maioria dos empregos criados em Portugal não serão na manufactura ou no sector transaccionável, mas sim no sector não transacionável. Portanto, em última instância, a saúde da economia portuguesa dependerá de quão produtivo é o sistema judicial, o sector da educação, a distribuição e retalho, o sector da saúde. E isso é muito diferente de construir um sector manufactureiro de alto nível. A maioria das pessoas não estará empregue na manufactura. Um Portugal produtivo terá de ter pessoas qualificadas e altamente especializadas a trabalhar no sector não transaccionável.

Reestruturar a dívida é inevitável?
Temos de reconhecer que algumas destas dívidas não podem ser pagas. O pior que se pode fazer com elas é continuar a refinanciá-las e, através de novos empréstimos, aumentar a dívida. “Haircuts” são a forma mais óbvia de resolver este problema. Mas claro que há relutância do lado dos credores para aceitarem que parte do dinheiro que emprestaram não será pago. E o sector oficial terá de participar.

(…)

 

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