PREVISÕES ECONÓMICAS: Quanto é preciso errar para os deixarem de ouvir?

Quem deve criticar e denunciar os erros de previsão grosseiros? Peguemos neste excerto da Agência Financeira onde se cita Basílio Horta, presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP):

“(…) «A Comissão Europeia para este ano tinha previsto um crescimento do produto de 0,3% e um crescimento das exportações de 3%», lembrou, frisando que estes números, para um país com a dívida de Portugal, foram encarados como «um resultado negativo» pelos analistas.
Por outro lado, «as agências de rating» com base nesses números, dão uma imagem de Portugal como um país que tem dificuldades de pagar a sua dívida, «logo as taxas de juro sobem e as dificuldades de financiamento crescem», acrescentou citado pela Lusa.
No entanto, na segunda-feira «a Comissão Europeia vem dizer que afinal se enganou, que não é 0,3% (de crescimento), é 1,3%. Que afinal não são três por cento das exportações, são 9,4%», criticou. (…)”

Neste caso, muito justamente, quem se sentiu lesado (um representante do Estado Português) fez a crítica, denunciando o quão erradas foram as previsões da Comissão Europeia em 2009, relativas ao crescimento económico português para 2010 (exportações incluídas). Mas talvez valesse a pena, quando uma instituição avança com previsões regulares sobre variáveis económicas determinantes existisse disponível um rating de reputação, algo que, com base na mediação dos erros históricos das previsões anteriores, nos desse um sinal, simples e facilmente reconhecível da qualidade do preditor. Podia ser um esquema de estrelas onde quanto maior o erro histórico entre o previsto e o real, menor o número de estrelas da previsão. Ista já para não referir outra informação complementar que faria todo o sentido: a divulgação do intervalo de confiança (em vez do ponto central) associado a cada previsão feita e demais indicadores que permitissem balizar a precisão esperada da previsão feita.

O problema é que parece existir sistematicamente um processo de amnésia, de falha do reconhecimento do mérito, se quiserem, por parte de quem produz e de quem ajuda a digerir a informação estatística. É isso que se passa com as agências de rating que parecem ter a sua reputação intacta tal é o impacto das suas recomendações nos media e no mercado. Como pode suceder com qualquer centro de estatísticas ou intituição com acesso privilegiado aos media.

Terá Basílio Horta razão na sua crítica? Conjunturalmente sim, a previsão feita o ano passado pela Comissão Europeia revelou-se má, mas teriamos de avaliar como se comportou em anos anteriores e, eventualmente confrotar o erro médio a que chegássemos com o apurado para previsões similares feitas por outras instituições (incluindo o governo português) para sabermos quão mau/bom é, em termos absolutos e relativos, o trabalho de previsão da Comissão Europeia.

O certo é que confiar na racionalidade e pressupor que todos temos formação superior em finanças para bem digerirmos a informação que nos chega, não parece razoável para justificar que se fique à espera que a aferição da reputação merecida corresponda à percebida. Entretanto,para já, pouco ou nada muda como se fosse irrelevante saber se o meteorologista que estamos a ouvir costuma acertar mais vezes (e quantas) do que falha a previsão do tempo.

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