O estranho caso das portagens duplicadas

Volta e meia (que expressão tão curiosa!) lá vem um estudo anunciar que é indispensável cobrar portagens nas entradas de Lisboa que ainda não as têm. Hoje a notícia é mais assustadora pois traz a chancela do LNEC.

Notem que sou um acérrimo defensor da existência de portagens, particularmente as que já existem. E não não estou a pensar nas da Ponte 25 de Abril, nem nas da Vasco da Gama, nem sequer nas da A5 ou nas da A1. Estou a pensar nas outras, as únicas que me convencem como extremamente eficazes, uma chama-se “pára-arranca” e a outra PARQUÍMETRO.

A do pára-arranca combinada com a subida do preço dos combustíveis tem efeitos demolidores nas pretensões de muitos candidatos a mister e miss “conforto”. Não tenho grandes dúvidas que está em vias de extinção aquela espécime que vem de carro para Lisboa porque sim (e notem que mesmo o mais empedernido teimoso andará a ver a sua fortuna por um canudo por estes dias). Demorar duas horas por dia dentro do carro e apagando 8 ou 9 ou 10 litros aos 100 seja de gasolina ou gasóleo têm um efeito nada desprezível para a maioria do comum dos mortais. Ou seja, acredito que cada vez mais que quem usa o carro é porque ainda assim acha que é a solução mais racional (uma família completa com filhos pequenos, por exemplo) ou porque não tem alternativa condigna.

A outra portagem é a mais democrática, eficiente e potencialmente eficaz que se pode inventar e já foi inventada, chama-se como disse, parquímetro. SE todo o bólide que entrasse em Lisboa tivesse a garantia de ter de pagar para aparcar, o seu utilizador seguramente faria/fará a devida reflexão face às alternativas que tem. Sinceramente não estou a ver como é que uma portagem mais cara na 25 de Abril ou uma nova estrutura de portagens no IC19 possam ser mais eficazes do que o parquímetro, com a vantagem de se poupar um ror de dinheiro em novas instalações, novas leis e posturas municipais, etc.

Convém sublinhar que há ainda muito por fazer ao nível da melhoria da eficácia do parquímetro. Há ainda muita gente que passa incólume porque a sua empresa ou ministério tem estacionamento gratuito. Uns largos milhares de carros. Se se quer constranger mais o uso do transporte público por esta via penalizadora invista-se aí. Como disse, poupar-se-á imenso dinheiro e garanto que se terá uma solução imbatível. Haver ruas específicas com acesso limitado também não é novidade e facilmente controlado pela diferenciação de preços dos ditos parquímetros, como aliás já de vai praticando. Também aqui poderá haver refinamentos.

Mas gostava de tocar ainda num ponto fundamental. Se é caro e desgastante usar o carro, por exemplo para quem vem de Sintra, e se o utente é racional, o que se pode fazer? A menos que se pense em aumentar a capacidade de resposta do comboio – que na hora de ponta tem já muito pouca folga para acomodar mais utilizadores – a solução passa por promover, ou a relocalização dos empregos para junto das aglomerados urbanos, e/ou promover a relocalização das pessoas para perto do seu local de trabalho. Não há volta a dar. Se não se for por aí podem vir milhares de esquemas de portagem, podem vir mais e novas estradas, podem gastar o que não temos a fazer mais e mais linhas de comboio, podem apregoar aos sete ventos a necessidade de proteger o ambiente que o resultado será o mesmo: as pessoas continuarão a ter de se deslocar de forma pouco eficiente e extremamente dispendiosa. E notem que as casas dvolutas já existem hoje, não surgirão amanhã caso as pessoas regressem à cidade; apenas estarão em sítios diferentes.
E aqui, no centro de Lisboa (que não na periferia) os transportes públicos ainda se pautam por andar quase sempre às moscas, a Carris então…

P.S.: Até tenho uma ideia ou duas um pouco diferentes das habituais para promover o regresso a Lisboa das centenas de milhares que daqui foram chutadas mas essas ficarão para outro artigo.

Mais um tema a que voltarei inevitavelmente.

7 comentários

  1. de facto concordo no essencial, ou seja, temos que começar a utilizar mais os transportes públicos, mas quais!?….numa cidade que não tem um sistema de transportes eficaz como é que é possível colocar portagens á entrada da cidade!?…tenho um exemplo muito claro, antes morava fora da cidade e precisava de sair de casa ás 7h em ponto e demorava 30m…se viesse de transportes demoraria 1h30m (com sorte)…ou seja, tinha de sair ás 6h. Da forma como andam as coisas é uma excelente medida para criar uma autentica população de zombies, o que até era bom…porque já não havia condições para reivindicações e protestos…
    Na minha opinião é um crime continuar a massacrar as pessoas que o único crime que cometeram foi nascer neste País…só depois de criar um SISTEMA de transportes EFICAZ é que faz sentido colocar portagens á entrada nas cidades, como se faz nos países DESENVOLVIDOS.

  2. Eu tb tenho um imbroglio com os senhores da Brisa que me cobraram 10,10€ por uma portagem de 3,00€ paga com multibanco. Belo serviço publico…

  3. Odeio arrumadores, mas ainda odeio mais os parquímetros!!!!

    Então agora assim sem mais nem menos esses camelos lembram-se de começar a tarifar os estacionamentos em espaço publico que são de borla há centenas de anos!!!

  4. Há centenas de anos ter carroça era um exclusivo de uma minoria, hoje na era do petróleo o pópó “democratizou-se” e “caga” mais do que uma parelha.
    Quanto ao camelo acho que é um animal respeitável, pelo menos este tipo que não se arma em “avestruz” 😉

  5. Caros amigos,

    onde se lê “Estado so Ambiente” deve ler-se “Estado das contas da Camara de Lisboa”

    Onde se lê “numa situação limite” deve ler-se “depois das eleiçoes de 2009”

    Parasitas…

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