Pense a médio prazo: amortizar hoje pode sair caro amanhã

O outro eu (genuíno alter ego), um tipo que escreve no Adufe, diz-me que há muito o jornal Público tem uma agenda política bizarra e incompatível com um jornalismo credível. Naturalmente, nem todos os jornalistas do jornal serão desprezíveis, contudo, por estes dias, o que se lá publica recebe ferrete negativo até prova em contrário.

Este que vos escreve deixa a defesa dessas considerações largamente para essas outras paragens da blogoesfera, contudo, em "diálogo" com o meu alter ego mais politizado cheguei a um artigo sobre os rendimentos declarados pelos ministros portugueses apresentado no Público: "Só quatro ministros declararam rendimentos para além do trabalho político".

No decurso do artigo houve duas considerações da jornalista (Mariana Oliveira) que me levaram a trazer o assunto ao Economia & Finanças.

A primeira refere-se ao facto de se considerar estranho que alguns dos ministros na posse de propriedades (rústicas e urbanas) recebidas parte delas como consequência de herança, não declararem rendimentos de propriedade. Uma estranheza que pessoalmente me parece muito relativa atendendo à quantidade de edifícios devolutos que há neste país e há facilidade com que um português de classe social modesta se pode ver proprietário de uma dezena de pedaços de terra espalhados entre campo e floresta, muitos deles sem qualquer valor comercial ou potencial de aproveitamento enquanto propriedades arrendáveis. Não sei se será o caso das propriedades em causa mas, à partida, e em abstracto falham-me as razões para a estranheza da jornalista. O pecado destes será o de não dinamizarem economicamente as suas propriedades.

A segunda consideração prende-se com o último parágrafo do artigo que reza assim: 

"(…) Os rendimentos de ministro não os inibem, contudo, de partilhar um encargo com a grande maioria dos portugueses: o crédito à habitação. Dos 17, oito declaram empréstimos à banca. Há até quem considere que investimentos em acções, planos de reforma e poupanças são compatíveis com o crédito habitação, como é o caso de Nunes Correia ou do ministro da Defesa, Severiano Teixeira. "

Terei percebido bem que possuir acções, planos de reforma e poupança deveria ou poderia inibir alguém de contrair/manter um crédito à habitação? Acreditando na boa fé da jornalista, parece-me que há por ali alguma coisa a estudar em matéria de gestão financeira. Assim lido, o último parágrafo soa a disparate. O pecado destes será o de dinamizarem excessivamente a sua carteira de investimentos.

Quantos concidadãos não haverá que tendo empréstimo para comprar casa asseguram liquidez (via poupança/investimento) em paralelo? Aliás essa prática é de todo recomendável na actual conjuntura, particularmente se houver bens de equipamento/duradouros cuja compra se revele inadiável.

Se tem dinheiro para amortizar o crédito à habitação mas daqui a uns meses ou mesmo poucos anos, tiver de comprar um carro novo ou mobília para casa ou um computador para o filho, pense duas vezes. Um crédito ao consumo sai sempre mais caro do que um crédito à habitação. Por outro lado, o retorno que pode retirar de aplicações financeiras (como acções) pode compensar largamente o que pouparia em juros com uma eventual amortização antecipada do seu crédito à habitação.

Em suma, estranho, estranho, é o artigo do Público. 

Um comentário

  1. Bem assinalado Rui, também li e me desiludi com esse artigo. Não entendo como é que os jornalistas não se inibem de comentar as notícias que dão e que supostamente deviam ser só informativas. Para comentar não há quem falte.

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