E se um dia de repente o Estado lhe pagasse o que lhe deve?

É só um anúncio, mas é também um compromisso. Qualquer pessoal atenta à realidade económica nacional tem bem presente o tipo de dificuldades que se colocam a uma empresa quando o seu principal cliente paga tarde e a más horas. E sabe também como esse problema pode provocar um efeito bola de neve nos respectivos fornecedores (que receberão também tarde e a más horas). Saberá ainda como pode afectar de forma letal uma empresa jovem ou em reestruturação. O Estado, que protagoniza alguns ditados populares inspirados na sua história de pagamento de dívidas, por via do actual Ministro das Finanças, apregoa que vai acelerar o pagamento das dívidas.

Só podemos congratularmo-nos com tal desígnio, fazer votos de muito sucesso na iniciativa, esperar pelas estatísticas de avaliação do objectivo daqui a uns meses e pelo maior agilização nos relações comerciais entre as empresas nacionais. Que não passe de uma boa intenção para começar em beleza a animação noticiosa da semana.

Talvez de caminho o próprio processo de apuramento das dívidas do Estado fique mais agilizado, talvez o próprio cálculo do défice público venha à conta disso a sofrer menos revisões após as estimativas preliminares (onde até 2005 estávamos muito mal vistos a nível europeu) e talvez o Estado consiga quebrar com o ciclo vicioso em que ele próprio navega, quem sabe até reduzindo o serviço da dívida.

Assim haja motivação, empenho e folga orçamental para concretizar todos estes passos ambiciosos e inadiáveis.

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