Cahora Bassa, o início de uma nova era

A questão da transferência de propriedade da Barragem de Cahora Bassa para o Estado Moçambicano foi um dos primeiros temas abordados no Economia & Finanças, nomeadamente em “Cahora Bassa nas Contas Nacionais” (27 OUT 2006) tendo depois tido sequência em “Cahora Bassa revisitada” (14 MAI2007).

Hoje volto ao tema por saber que será efectuado o pagamento dos 700 milhões de dólares relativo à transferência de 85% do capital social da empresa do Estado Português para o Moçambicano.

No Diário Económico citam-se duas perspectivas, por um lado Mira Amaral que afirma que Portugal sai de cabeça erguida e que “(…) se Moçambique estiver de acordo, Portugal pode ter um papel na manutenção e administração da central. Os 15% que Portugal mantém são instrumento estratégico para aprofundar ligações, não é uma participação financeira, mas estratégica.”

Por outro lado temos os sempre anónimos analistas que aventam com o epíteto de “falta de visão” do governo português precisamente por não garantir uma parceira de dimensão estratégica.

Quem conhece minimamente todo o processo julgo que teria já dada há muito tempo como perdida qualquer hipótese de encerramento em moldes comerciais para este caso. É bem verdade que tudo poderia ter sido muito melhor mas é também verdade que depois da nossa equipa estar a perder 5 a zero, um empate sabe sempre a vitória.

Que Mira Amaral tenha razão e que o Estado Moçambicano esteja satisfeito, sinal de que haverá futuro na relação, caso Portugal esteja para aí virado.

Entretanto, entre o momento do acordo e o de efectivação de pagamento, a barragem embarateceu (e de que maneira!) fruto da negociação se ter fixado não em euros mas em dólares. Um belo rebuçado final para o novo dono. E aqui sim, talvez um sinal de falta de visão por parte do lado português. Enfim, que venha o futuro e que se reduza a dívida pública com a verba arrecadada.

3 comentários

  1. Caro Rui
    às vezes a visão economicista é tacanha. A barragem de Cabora Bassa (o nome original) nunca deveria ter sido construída na altura que foi (Moçambique já estava em Guerra da Independência e a zona de construção era a zona de maior pendor militar). Contudo, feito esta primeira asneira, a segunda foi o não termos desenvencilhado da barragem logo em 1975, mas continuamos a pagar pela manutenção e os juros. Agora asneira final, em vez de utilizar isso como motivo de cooperação estratégica para desenvolver futuros projectos, Portugal abdica de um dos maiores trunfos. Moçambique deverá vender num futuro muito próximo a barragem a empresas sul-africanas, que já detêm o controlo de toda a produção vendida a um preço insignificante. Considerando ainda que a África do Sul também controla as reservas de gás de Moçambique, então a pergunta é porque será que Moçambique continua a abdicar dos seus únicos recursos. Interesses.. naturalmente, que Portugal poderia alterar e tirar ainda maiores benefícios que não apenas os orçamentais

  2. Pois claro. E a descolinazação também podia ter sido diferente. O povo argelino e saraui que o digam.
    A história está cheia de erros e oportunidades perdidas e nós por cá temos caprichado. Eu a este final de história (o JazP tem razão no que escreve, atenção!) chamar-lhe-ia Proveito Extraordinário ainda assim.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *