Câmbio Euro Dólar a caminho da paridade?

Desde o final de 2002 que o Euro não estava tão barato para quem detém dólar e o inverso. Este é um facto que resulta da taxa de câmbio Euro-Dolar ter reagido um forte desvalorização do Euro após a confirmação do reforço da política monetária mais restritiva por parte da Reserva Federal Norte Americana (FED). A 14 de dezembro de 2016, a FED veio a aumentar as taxas de juro de referência no mercado norte americano em resposta à aceleração do ritmo de crescimento da economia.

 

Duas política monetárias em choque nos dois lados do Atlântico

As taxas de juros começam assim a abandonar os níveis historicamente baixos mas apenas do lado Americano do oceano Atlântico. A nível europeu e da Zona Euro, em particular, o BCE está longe de inverter a sua política monetária ainda que os atos e o discurso não sejam inteiramente coerentes. Recomendamos a leitura da nossa peça Programa do BCE para 2017: As más boas notícias para Portugal que procurou resumir as novidades do BCE e discorrer sobre os impactos em Portugal.

Neste momento temos então duas políticas monetárias que evoluem em direções opostas, uma mais restritiva que premeia mais a poupança, procurando que o crescimento em curso seja equilibrado e não exacerbado, subindo as taxas de juro (FED) e outra mais acomodatícia que procura dar incentivos ao investimento, estimular o consumo e procurar assim subir os preços, facilitando o crédito (BCE).

 

Câmbio Euro Dólar a caminho da paridade

Como consequência o valor de cada Euro aproxima-se do valor de cada Dolar, uma coincidência matemática que, a verificar-se, se chamará de paridade. Apesar de nestes tempos de sucessivas descobertas em termos de economia comportamental ser arriscado apelar estritamente a racionalidade económica, a verdade é que, racionalmente, atingir-se a paridade deveria ser uma curiosidade sem mais relevo real do que o simbólico dado que o deverá ser relevante é a evolução entre as duas moedas ao longo do tempo.

 

O que esperar para o futuro

A diferença ao nível da política monetária é um dos fatores que está a levar a que haja maior procura de dólares (para beneficiar das taxas de juro mais elevadas) e menor procura de euros (fugindo aos baixos prémios oferecidos pelos baixos juros). A menor procura de euros face aos dólares reduz o seu preço como está refletido na taxa de câmbio entre as duas moeda.

Teoricamente, este efeito irá tornar as exportações da Zona Euro mais baratas junto dos detentores de dólares e irá encarecer as importações de produtos pagos em dólares por parte de agentes económicos situados em economia da Zona Euro. No médio prazo, e recordando, de forma simplista, uma lei da economia, a balança comercial da Zona Euro ganhará com este embaratecimento do Euro e, essa própria melhoria, poderá vir a tornar o investimento na Zona Euro mais apetecível, podendo produzir um reequilíbrio do câmbio.

O reverso da moeda é que esta atração pelo dólar pode também tornar mais difícil obter investimentos na Zona Euro, tudo dependerá da avaliação dos investidores face ao efeitos contraditórios e face às suas perspetivas em termos de horizonte de investimento, entre outros. Comprar empresas na Europa ficará mais barato para o Norte Americano, mas manter os dólares em casa renderá mais juros. Qual o efeito que vencerá?

 

E Portugal?

Para já, como dissemos, o efeito de curto prazo refletir-se-á, em especial, no comércio internacional denominado em dólares e em euros. No caso português, destacar-se-á a fatura energética, tipicamente paga em dólares, que se deverá tornar mais onerosa.  A produção nacional de energias renováveis poderá tornar-se mais competitiva; o recurso a combustíveis fósseis menos.

O efeito global sobre a economia poderá ser positivo, ainda assim é preciso ter em consideração que a maior parte das exportações nacionais se faz para dentro da própria Zona Euro (onde este efeito cambial se esbate).

Por outro lado, se considerarmos que há exportações que dependem de incorporação de importações e que estas poderão ter de ser pagas em dólares, constatamos que o efeito benigno da desvalorização do Euro não será transversal nem terá o mesmo impacto em todos os setores de atividade.

O turismo poderá ser uma das áreas mais beneficiadas, em especial se se mantiver o incremento da promoção do mercado português em mercados emissores cuja moeda está a ganhar valor face ao Euro, como sucede nos Estados Unidos da América (um dos mercados emissores que mais tem crescido em 2016 – cerca de 20%.

Sobre o turismo recomendamos a leitura do artigo: Turismo acelera em todo o país  – outubro 2016 .

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