Mercado aceita emprestar dinheiro à Alemanha a 5 anos com taxas negativas

Pela primeira vez na história para este prazo de empréstimos o mercado aceita emprestar dinheiro à Alemanha a 5 anos com taxas negativas. O governo federal alemão emitiu hoje obrigações do tesouro a 5 anos que foram subscritas a uma taxa ligeiramente negativa o que implica que em cada período de pagamento de juros ao longo destes 5 anos que decorrem até à devolução do capital emprestado, os credores aceitam perder um pouco do capital em vez de receberem juros. Porque aceitam este negócio aparentemente absurdo? Para poderem usufruir da garantia de menor risco que atribuem ao tesouro alemão. Ou seja, estes investidores acham tão arriscado emprestar dinheiro ou investi-lo em outras opções que acreditam que irão perder mais dinheiro nessas alternativas do que simplesmente colocando-o em dívida pública alemã, mesmo sabendo que, no final, terminarão com menos dinheiro no bolso do que no início do investimento.

Note-se que os indícios recolhidos de forma não sistemática mas, estamos em crer, significativa sobre os volumes de aforramento de dinheiro em notas um pouco por todo o mundo estarão em máximos históricos. Note-se também que guardar dinheiro em cofres é em si um processo dispendioso e não isento de risco.

Em termos comparativos a dívida pública portuguesa continua também a bater mínimos históricos e tem vindo a reduzir ligeiramente o diferencial face ao custo da dívida alemã contudo, como se vê, o limite da descida para a dívida alemã está abaixo de zero pelo que continuamos a registar um sobrecusto significativo em termos de taxa de juro.

A situação atual, em termos nominais, é singular, e a vários títulos fonte de preocupação por ser indutora de comportamentos de risco. Se há uma parte dos investidores que aceitam este tipo de negócios de perda controlada, outros há que ignoram o risco subjacente e investem crescentemente em títulos extremamente arriscados e tipicamente desadequados ao perfil de risco habitual nesses investidores. No meio deste cenário surgem ainda imensas injeções de dinheiro por parte de alguns bancos centrais – visando estimular a economia ou evitar a deflação – que acabam em muitas situações por se limitar a gerar inflação apenas nos preços de algumas classes de ativos (como ações) induzindo a formação de bolhas especulativas, desviando investimento de outras hipóteses tradicionais e potenciando o agravamento de desequilíbrios económicos importantes.

Os sinais de que a situação financeira internacional está longe de ter estabilizado ou deixado para trás os seus dias mais turbulentos são esmagadores. O receio de que surja o pai de todos os alfinetes é bem real.

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